Últimos meses foram marcados por internamento de 10 dias, viagens internacionais simbólicas e um Sínodo inédito, com marca global
Lisboa, 27 dez 2021 (Ecclesia) – O Papa viveu em 2021 de um ano de pontificado marcado pelo internamento de dez dias, num hospital de Roma, por três viagens internacionais e Sínodo inédito, com marca global.
O ano fica marcado pelo internamento no Hospital Gemelli, em Roma, de 4 a 14 de julho, após uma intervenção cirúrgica ao cólon; Francisco recuperou da operação e descartou mesmo qualquer cenário de eventual conclave.
“Continuo vivo, embora alguns me quisessem morto”, disse num encontro com jesuítas, em Bratislava.
O Papa, que tem repetido mensagens em favor da paz no Médio Oriente, decidiu visitar o Iraque de 5 a 8 de março, ainda em contexto pandémico, para ajudar a virar a página da guerra e do terrorismo, em defesa da minoria cristã e do diálogo entre religiões.
A segunda viagem internacional do ano levou Francisco a Budapeste, para encerrar o Congresso Eucarístico Internacional, e à Eslováquia, em setembro, com mensagens e gestos em defesa das populações mais vulneráveis.
Falando aos jornalistas no voo de regresso a Roma, o Papa sublinhou a necessidade de proteção legal para as várias uniões, distinguindo-as do matrimónio católico.
Dezembro marcou o regresso do Papa a Lesbos, para um encontro com os refugiados ali acolhidos, após uma viagem ao Chipre e Grécia que deixou várias mensagens ecuménicas e em defesa da democracia.
Francisco quis estar junto de várias famílias de refugiados, cinco anos depois da primeira visita a Lesbos, evocando as imagens de crianças mortas nas costas do Mediterrâneo.
“Não permitamos que este mar das memórias se transforme no mar do esquecimento. Irmãos e irmãs, eu peço-vos: paremos este naufrágio de civilização!”, afirmou.
A nível interno, 2021 marcou o arranque de um inédito processo sinodal, convocado pelo Papa Francisco, que vai ter etapas diocesanas, continentais e um encontro global, em outubro de 2023, promovendo a auscultação das comunidades católicas e da sociedade, sobre o futuro da Igreja Católica.
O Sínodo 2021-2023 é visto como um momento de concretização de várias das dinâmicas do Concílio Vaticano II (1962-1965), uma referência do pensamento do atual Papa, que este ano voltou a restringir o uso do Missal pré-conciliar.
Francisco criou um novo ministério, de catequista, para leigos e leigas católicos, e abriu o acesso das mulheres aos ministérios de leitor e acólito; no Vaticano, foi nomeada, pela primeira vez, uma mulher como secretária-geral do Governatorato e há uma nova lei anticorrupção para dirigente do Estado.
Outra preocupação do pontificado, o combate aos abusos sexuais de menores, conheceu um novo capítulo, a 1 de junho, quando o Papa publicou a constituição Apostólica ‘Pascite gregem Dei’, promovendo uma reforma do Direito Canónico no que se refere às sanções penais na Igrej.
As novas normas integram as várias medidas legislativas promovidas por Francisco desde 2016, visando “a proteção penal incisiva dos bens maiores da Igreja: a fé, a santidade dos sacramentos, a vida das pessoas mais frágeis, que têm meios de proteção limitados”, ou seja, menores e adultos vulneráveis.
Destacando a importância de mudança, Francisco nomeou como membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores uma vítima de abusos, no Chile, e escreveu aos bispos da França, manifestando “vergonha” perante os dados revelados por uma comissão independente.
A Igreja Católica viveu um Ano de São José; em maio, encerrou-se o Ano ‘Laudato Si’, a encíclica ecológica e social que o Papa assinou em 2015, a caminho da COP26 de Glasgow.
A cimeira do clima levou vários líderes religiosos a assinar uma declaração conjunta, no Vaticano, e Francisco aos microfones da BBC, para pedir respostas urgentes, sublinhando que o tempo se está a esgotar e é preciso agir quanto antes.
A Igreja Católica celebrou, pela primeira vez, o Dia Mundial dos Avós e Idosos, por iniciativa do Papa, e voltou a viver o Dia Mundial dos Pobres, que Francisco quis celebrar em Assis, junto de pessoas de toda a Europa.
Em Roma, o Papa uniu-se a uma oração inter-religiosa pela paz, no Coliseu, e evocou, no dia dos fiéis defuntos, os soldados mortos na II Guerra Mundial.
As crises no Líbano, Myanmar, Ucrânia, Israel e Palestina mereceram várias intervenções, para além da mensagem ‘Urbi et Orbi’, na Páscoa, em que Francisco recordou as vítimas da violência em Cabo Delgado, Moçambique.
O Papa recebeu o novo presidente dos EUA e recordou o sofrimento dos povos indígenas no Canadá, cujas lideranças acabaram por adiar um histórico evento no Vaticano, por causa da pandemia.
Em fevereiro, Francisco recebeu representantes de mais de 180 Estados, referindo-se aos conflitos no mundo e às consequências da pandemia, para afirmar que a fraternidade e a esperança “são remédios de que o mundo precisa, hoje, tanto como as vacinas”.
A Covid-19 esteve no centro das preocupações do Papa, uma das vozes mais ativas na defesa do acesso universal à vacina contra a Covid-19, tendo ele próprio sido vacinado, no Vaticano.
Foram várias as mensagens a pedir a libertação de patentes, os convites à oração pelo fim da pandemia e, no seu vídeo mensal de novembro, Francisco alertou para as consequências da pandemia, ao nível da saúde mental, ofereceu vacinas e apresentou um roteiro para o pós-pandemia, para travar as desigualdades sociais que colocam milhões de pessoas na miséria e à beira da morte de fome.
O Papa associou-se também aos grandes eventos desportivos que decorreram no último ano, do Euro aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em Tóquio.
A última semana incluiu o tradicional encontro de Natal com a Cúria Romana, a bênção ‘Urbi et Orbi‘ e uma inédita carta aos casais de todo o mundo, pelo Ano Amoris Laetitia, a caminho do encontro mundial das famílias, em 2022.
O próximo ano começa com a mensagem de Francisco para o Dia Mundial da Paz, em que apela ao investimento na educação e na valorização do trabalho.
OC
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia. Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979). João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino. O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos. Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o.” O cardeal Jorge Mario Bergoglio seria eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e também o primeiro pontífice sul-americano. O Papa fez até hoje 35 viagens internacionais, nas quais visitou 53 países, incluindo Portugal. Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Fratelli Tutti’, sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato si’, dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho); ‘Amoris Laetitia’ (A alegria do amor), após as duas assembleias sinodais sobre a família; “Gaudate et Exsultate”, sobre o chamamento à santidade no mundo atual); “Christus Vivit”, dedicado aos jovens, após o Sínodo de 2018; e “Querida Amazónia”, na sequência do Sínodo especial dedicado a esta região, em 2019. |