Vem! Entra e senta-te…

Padre António José Ferreira, Diocese de Lamego 

Estamos no advento, o tempo de preparação para o nascimento do Deus connosco. O Natal é, por excelência, um período em que o cristão – aquele que acredita em Cristo, não necessariamente católico, é solidário. No entanto, este deve ir muito para além desta característica: ele deve ser inclusivo, sempre! No seu coração deve, pois, acolher os irmãos, sem quaisquer exceções, visto que faz parte da sua essência, do seu ADN abrigar/acolher todos, todos, todos, como nos diz o Santo Padre. Isto pressupõe aceitar as diferenças físicas, sociais, culturais, étnicas, religiosas, e/ou outras. Só deste modo existirá coerência entre a fé que professamos e a vida que vivemos, uma vez que sabemos que no alicerce do caminho que nos leva até aos outros está Cristo, Aquele que todos acolhe. Deste modo, temos consciência de que não podemos ter a porta do coração aberta a Jesus e fechada aos irmãos, sejam eles quais forem e venham eles donde vierem.

O mundo que nos envolve é cada vez “mais pequeno”, na medida em que a comunicação das grandes massas está muito facilitada. O contributo dado pelo progresso e pela tecnologia são preciosos e ajudaram, em muito, ao desenvolvimento da interdependência/interconexão entre povos e culturas. Também por esta razão existe um crescente cuidado com a ecologia e com o meio ambiente, expressos numa preocupação cada vez maior em proteger a Casa Comum onde vivemos.

As redes sociais permitem encontros virtuais e, por vídeo, temos acesso à imagem quase real do nosso próximo e que se faz irmão desta forma. Foi um privilégio, particularmente na época da pandemia, podermos contar com o contributo técnico-científico que nos aproximou daquela forma. No entanto, houve também o revés da medalha ao verificar-se que a saúde mental piorou significativamente. Nem todos puderam usufruir desses contactos virtuais, mas é certo – os estudos o comprovam – que a depressão, a tristeza, o sofrimento do foro psíquico aumentaram, consideravelmente, nestes últimos anos. Isto é facilmente compreensível, na medida em que fomos feitos para estar com, partilhar vidas reais, para o abraço, para o toque e a verdade é que isto não foi possível durante um tempo significativo. Destes “constrangimentos” ficaram, sem dúvida, marcas extremamente negativas que só tratamentos clínicos, em muitos casos, poderão atenuar as feridas abertas porque, a bem dizer, curar definitivamente será muito difícil.

Pela fé que professa, o católico tem a missão de agir, ajudando todos, sem exceção, a reaverem a dignidade que toda a vida humana merece ter, recorrendo a ferramentas nas quais deverá procurar “especializar-se” ao longo da sua vida: a bondade, a misericórdia, o perdão, a partilha e o amor… todas e cada uma delas irão ajudar o outro, na sua caminhada, a ser mais feliz e a sentir-se bem consigo mesmo  e com os demais que o envolvem e se relacionam mutuamente.

Mas cultivar momentos de silêncio pode ter, também, por vezes, um valor incalculável para mantermos/recuperarmos a saúde e a sanidade mental, na medida em que ele pode ser a resposta mais eloquente perante tantas “solicitações”. Este é um grande desafio de difícil escolha, todos o sabemos, ou não vivêssemos nós num mundo barulhento e cheio de “flashes” a requererem a nossa atenção.

Verifica-se, felizmente, hoje em dia o interesse e acesso facilitado, cada vez maior, de muitos, à arte, à música, à pintura, a diversas formas de “meditação” que remetem o espírito para “terapias” que ajudam a torná-lo mais forte e robusto para fortalecer a parte física e psíquica que enfrentará os desafios do nosso tempo, criando maior harmonia entre ambas numa perspetiva de bem-estar integral.

Assim sendo, se cada um de nós não deixar de incluir o seu coração nesse almejado bem-estar completo, proporcionando nele aconchego para todos, certamente a vida fluirá em harmonia mais plena! Se os que entrarem no nosso coração encontrarem um lugar sentado à mesa, redonda, em que quem preside e é o centro se chama Cristo, então saberemos que estamos a cumprir fielmente as promessas feitas no nosso Batismo e renovadas no Sacramento da Confirmação.

…E que nunca a nossa consciência nos possa apontar o facto de termos deixado alguém à porta do nosso coração.

Pe. António José Ferreira, pároco de Resende e Felgueiras

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