Paris 1997

Lígia Silveira, Agência ECCLESIA

Tinha 18 anos e na verdade não sabia bem ao que ia.

O meu percurso na Igreja fez-me descobrir a inserção paroquial dois anos antes, altura em que decidi fazer a primeira comunhão. Portanto o grupo de jovens era o meu quintal, a Mosteiro de Santa Maria do Mar, em Sassoeiros, a minha comunidade, e o padre Ribeiro, responsável pela paróquia, que se desdobrava em comunidades, a pessoa que nos alertava para a importância de não formarmos grupos à parte.

Tenho até dificuldade em perceber como ali cheguei, mas a verdade é que quando soou o convite para ir à Jornada Mundial da Juventude a Paris, e alguns amigos da comunidade se entusiasmaram, vi-me na estação de Santa Apolónia, no meio de muitos jovens, com destino à capital francesa. Recordações de uma avaria no comboio e da necessidade de trocar de locomotiva, jovens vestidos com polos que lembravam a bandeira portuguesa, muita música e violas, alegria no seu estado mais genuíno, e hoje, um álbum cheio de fotografias de momentos, sorrisos, abraços de encontro e unidade.

Um casal de cabelos brancos recebeu-me, e a mais seis peregrinas portuguesas, numa casa em Le Vesinet, um bairro na periferia onde se chegava de metro, e, recordo a amabilidade, o chá e os bolinhos antes de dormir, que acompanhavam a conversa animada que uma das minhas colegas procurava traduzir dado o meu francês titubeante; lembro o conforto de um sótão tomado por jovens entusiasmadas e cansadas; recordo a fotografia à porta de casa antes de sairmos para a vigília em Longchamp quando nos entregavam laranjas, sumos, pizzas pequenas, para que mais logo não tivéssemos fome.

Para me referir a palavras de João Paulo II teria de ir em busca delas e seria uma memória reconstruída, mas lembro a alegria de o ter visto passar bem próximo e o entusiasmo que isso gerava entre todos. Talvez isso seja suficiente para sentir que não estamos sós, e sentir que a empatia, a fraternidade, o encontro, têm início nas estações de metro, entre canções, na estrada partilhada durante vários quilómetros, nas bandeiras que se agitam ao vento e formam uma unidade. Simplista? Sem dúvida, mas com sementes de futuro.

Hoje, ao regressar a essa semana de agosto, não sei aferir o quão transformador foi, mas sei que depositou em mim a certeza de uma Igreja jovem que se mobiliza, que convida com simplicidade a participar. Talvez sejam esses os primeiros passos, que nestes dias serão os passos de tantas nacionalidades a caminhar juntas, que devemos afirmar, para que depois, a partir da empatia e da humanidade comum, possamos colher essas sementes germinadas.

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