Uma escuta valorativa

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Foto: Agência ECCLESIA/MC

A caminho da segunda sessão da Assembleia Sinodal, muitas são as questões que se colocam num momento que parece ser de “pausa”. Numa conversa, tive oportunidade de me interrogar sobre o lugar de uma “escuta valorativa”, neste processo, que seja uma marca distintiva da Igreja sinodal e não a limita a uma (também necessária) escuta funcional.

Uma escuta que não seja determinada em função de um acontecimento, da necessidade de tomar decisão, de determinar uma mudança. A escuta na Igreja é uma forma de viver em comunidade, na qual todos se encontram, em que todos partilham desafios, objetivos, expectativas, sonhos, preocupações.

Há passos que podem começar já a ser dados. Assim, a comunidade entenda que é possível. Parece evidente que a forma de entender a Igreja será diferente depois deste Sínodo: uma forma de atuar, de se relacionar, de conceber as comunidades, de forma mais horizontal, mais partilhada nas suas funcionalidades, a todos os âmbitos. Só assim todos podem sentir, efetivamente, que se têm de empenhar, não delegar funções, para uma maior participação e responsabilidade.

Apesar de falar num momento histórico, até de “revolução”, seria ingénuo pensar que as consequências deste novo modo de entender a comunidade terá consequências imediatas. Implica muitas décadas de estudo, de vivência, de transformação, de assimilação, até porque as mudanças não se fazem por decreto.

Num mundo em crise de pertença, esta nova comunidade deve assumir-se também como espaço de contemplação, de oração, de sentido para além do material, do funcionalismo, desta máquina contemporânea de triturar seres humanos e recursos naturais.

A este respeito, cito uma passagem do relatório final que me parece inspiradora: “A prática sinodal faz parte da resposta profética da Igreja a um individualismo que se verga sobre si mesmo, a um populismo que divide e a uma globalização que homogeneíza e aplana. Não resolve estes problemas, mas fornece um modo alternativo de ser e de agir”. Um objetivo fundamental, no momento que vivemos, na Igreja e na sociedade.

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