Migrações, oportunidade para a paz

Documento da Comissão Nacional Justiça e Paz

A Comissão Nacional Justiça e Paz quer chamar a atenção para a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2018
Quando cada vez mais, em diversos países, se reforçam correntes hostis a migrantes e refugiados, o Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, associa as migrações à construção da paz. Afirma, referindo-se a estas: “Alguns consideram-nas uma ameaça. Eu, pelo contrário, convido-vos a olhá-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz”.
A paz é o que buscam muitos dos migrantes e refugiados: os que fogem da guerra, mas também os que fogem da fome ou da opressão. Para a encontrar, diz a mensagem, “muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta”.
Mas em que medida podem as migrações contribuir para a construção da paz?
“O desenvolvimento é o novo nome da paz” – disse Paulo VI há cinquenta anos na encíclica Popolorum progressio. “Todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja” – diz o Papa Francisco nesta mensagem, citando o Papa emérito Bento XVI. .As migrações podem contribuir para concretizar este direito. E- dizem-no vários estudos- contribuem para o desenvolvimento quer dos países de origem dos migrantes, quer dos países de destino.
E não é só esse o contributo que podem dar os migrantes e refugiados aos países de destino Nesta mensagem, o Papa Francisco afirma que eles “não chegam de mãos vazias: trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem.”. O diálogo de culturas traduz-se em enriquecimento recíproco. E disse o Papa noutra ocasião (no discurso que deixou escrito quando visitou a Universidade Roma Tre, em 17 de fevereiro passado): “Uma cultura consolida-se através da abertura e do confronto com as outras culturas, desde que haja uma consciência clara e madura dos próprios princípios e valores”.
Acolher, proteger, promover e integrar: são os quatro verbos que devem inspirar as políticas dos governos e as ações das sociedades de acolhimento- já o disse o Papa Francisco em várias ocasiões.
A mensagem sublinha a importância de que se revestem os dois pactos globais sobre migrações (seguras, ordenadas e regulares) e refugiados que se espera venham a ser aprovados em 2018 no âmbito das Nações Unidas. Porque se exigem soluções globais, não isoladas ou unilaterais. Afirma o Papa a respeito destes pactos: “é importante que sejam inspirados por sentimentos de compaixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz: só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença”.
É bom que estas palavras tenham um particular eco em Portugal, um país marcado pela emigração desde há séculos (e que dela tanto beneficiou e continua a beneficiar) e também, mais recentemente, pela imigração. Também esta vem beneficiando o nosso país. Os dados mais recentes, do Observatório para as Migrações (ver www.om.acm.gov.pt) revelam, mais uma vez, que os contributos financeiros dos imigrantes para o Estado português são maiores do que as prestações de que beneficiam. E apesar de estes conhecerem maior risco de pobreza e privação material severa do que os nacionais.
As migrações podem ser uma oportunidade para a paz- é o que diz, em síntese, esta mensagem e que a Comissão Nacional Justiça e Paz quer sublinhar. Como disse São João Paulo II, citado na mensagem: “Se o “sonho” de um mundo em paz é partilhado por tantas pessoas, se se valoriza o contributo dos migrantes e dos refugiados, a humanidade pode tornar-se sempre mais família de todos e a nossa terra uma real “casa comum””.
Lisboa, 28 de dezembro de 2017
A Comissão Nacional Justiça e Paz

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