Francisco/2022: O ano da Guerra na Ucrânia e de adeus a Bento XVI

Viagens internacionais e nova Constituição para a Cúria Romana marcaram atividade pontifícia

Lisboa, 21 abr 2025 (Ecclesia) – O Papa, que faleceu hoje aos 88 anos de idade, viveu 2022 num contexto marcado pelo que qualificou como “terceira guerra mundial”, com preocupação particular pela Ucrânia.

A violência no leste da Europa marcou dezenas de intervenções de Francisco, desde 24 de fevereiro, quando começou a invasão da Rússia, levando-o mesmo a chorar, em público, ao recordar as vítimas da guerra, durante uma homenagem à Imaculada Conceição, no centro de Roma.

O Papa, que ponderou uma visita a Kiev e Moscovo, nunca concretizada, escreveu uma carta ao povo da Ucrânia, e já abriu as portas do Vaticano para eventuais negociações.

Perante o possível cenário de tragédia nuclear, Francisco fez uma intervenção inédita, a 2 de outubro, na recitação do ângelus, que dedicou exclusivamente a este conflito, com apelos na primeira pessoa aos presidentes da Rússia e da Ucrânia.

A 25 de Março, o Papa uniu Fátima e o Vaticano num dia histórico, marcado pela consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria.

A oração pela paz foi presidida na Cova da Iria por um representante pontifício, o cardeal Konrad Krajewskim e, na Basílica de São Pedro, pelo próprio Francisco.

Depois de um dia de jejum pela paz, a 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, a guerra voltou a marcar presença na celebração da via-sacra no Coliseu de Roma: a cruz foi transportada, como previsto, por Irina e Albina, amigas e migrantes na Itália, naturais da Rússia e da Ucrânia.

Nos nove anos de início solene do seu pontificado, a 13 de março de 2022, o Papa promulgou a esperada nova constituição ‘Praedicate evangelium’ (Pregai o Evangelho), que propõe uma Cúria mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior protagonismo para os leigos e leigas.

Entre as novas lideranças, destaca-se a escolha do cardeal português D. José Tolentino Mendonça como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.

Antes, o pontífice tinha decidido reforçar as competências de bispos e conferências episcopais, para promover uma “descentralização saudável” na Igreja.

Quatro viagens internacionais em 2022

Barém, 03-06 de novembro

O Papa regressou à Península Arábica como “peregrino da paz e da fraternidade”, para deixar mensagens em favor do diálogo entre as religiões, vivendo dias de festa junto da comunidade católica local.

Cazaquistão, 13-15 de setembro

Francisco associou-se ao VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais, assinando a declaração comum pela rejeição da violência e do fundamentalismo religioso.

Canadá, 24-30 de julho

A viagem apostólica ao Canadá, a mais longa de 2022, foi uma visita histórica, de seis dias marcados pelo ‘mea culpa’ de Francisco, perante representantes indígenas, pelos abusos cometidos no passado.

Malta, 02-03 de abril

Depois de Lampedusa e de Lesbos, o Papa cumpriu em Malta uma nova etapa de peregrinação ao encontro dos migrantes e refugiados que atravessam o Mediterrâneo, em busca de um futuro melhor.

Francisco teve de adiar uma viagem a África, devido a problemas de saúde que cancelaram a celebração do Corpo de Deus e a visita a Florença.

Na Itália, o Papa passou por AquilaMatera e Assis, onde se encontrou com os jovens da Economia de Francisco.

A 25 de outubro, Francisco voltou ao Coliseu de Roma para encerrar o encontro inter-religioso pela paz, promovido pela comunidade de Santo Egídio.

Em novembro, o Papa visitou Asti, no norte da Itália, terra natal dos seus pais, que emigraram para a Argentina após a I Guerra Mundial.

Outro momento em destaque foi 10.º Encontro Mundial das Famílias, que decorreu em Roma, de 22 a 26 de junho, com ligação às dioceses dos cinco continentes.

Em 2022, Francisco presidiu a um consistório em que criou o primeiro cardeal de Timor-Leste e promoveu um encontro geral do Colégio Cardinalício, para debater a reforma da Cúria Romana.

Além de duas cerimónias de canonização, Francisco proclamou como beato o Papa João Paulo I.

Em janeiro, o Domingo da Palavra ficou para a história: pela primeira vez, o Papa instituiu no ministério de leitor e de catequista leigas católicas, de quatro continentes.

Internamente, o ano fica marcado pelo documento sobre a Liturgia, que visou o fim das “polémicas” neste campo, apresentando a reforma do Concílio Vaticano II como referência para todas as comunidades.

O Papa concedeu várias entrevistas, em que abordou, entre outros temas, a crise provocada pelos abusos sexuais de menores, na Igreja, reafirmando a política de tolerância zero.

A 31 de dezembro, a Igreja disse adeus a Bento XVI, falecido aos 95 anos de idade, no antigo mosteiro ‘Mater Ecclesiae’, onde residia desde 2013, após a renúncia ao pontificado.

Francisco evocou a “bondade” do seu predecessor: “Com emoção, recordamos a sua pessoa tão nobre, tão gentil”.

“Sentimos tanta gratidão nos nossos corações: gratidão a Deus por tê-lo oferecido à Igreja e ao mundo; gratidão a ele, por todo o bem que fez e, sobretudo, pelo seu testemunho de fé e oração, especialmente nestes últimos anos da sua vida retirada. Só Deus conhece o valor e a força da sua intercessão, dos seus sacrifícios oferecidos pelo bem da Igreja”, referiu o Papa.

OC

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