Educar é libertar

Reflexão do professor António Estanqueiro no regresso à escola.

Agência Ecclesia/MC

Uma das tarefas mais importantes dos pais é educar os filhos para a autonomia e torná-los protagonistas da sua própria vida, equipando-os com valores e competências.

Pais e filhos caminham juntos. Chegará o dia em que os pais, por amor, deixarão que os filhos sigam com liberdade o seu caminho e tomem conta de si mesmos.

 

Superproteção

Como bons jardineiros, os pais atentos criam um ambiente de proteção e segurança para que os filhos cresçam de forma saudável. O que acontece a uma planta se a privarmos de sol e ar? Sufoca! Do mesmo modo, se os filhos forem superprotegidos, ficarão dependentes e imaturos, incapazes de tomar decisões por medo de falhar.

As crianças e os adolescentes não podem prescindir do olhar protetor e da orientação dos pais. Mas a atitude de superproteção, ainda que bem-intencionada, não educa. É preciso saber cuidar dos filhos, ajudá-los a satisfazer as suas necessidades (não os seus desejos ou caprichos) e dar-lhes amor incondicional, sem travar o processo de autonomia.

Em geral, as crianças pequenas gostam de andar de mão dada com os pais e de sentir a sua proximidade. Gostam de abraços e beijos. O mesmo não se verifica com os adolescentes. Apesar da sua necessidade de amor e segurança, eles tendem a distanciar-se dos pais e a aproximar-se dos amigos, com quem interagem presencialmente ou através das redes sociais. Querendo afirmar a sua autonomia, os adolescentes detestam perguntas incómodas sobre as suas companhias e os seus comportamentos. Muitas vezes põem à prova a paciência e a capacidade de diálogo dos pais na gestão dos conflitos.

Na família e na escola, a arte da educação consiste em dar autonomia progressiva às crianças e aos adolescentes, de acordo com a sua idade e a sua maturidade. Por isso, o autoritarismo e a permissividade são estilos educativos inaceitáveis. Tem de haver equilíbrio entre o controlo e a liberdade.

 

Autonomia

Como educar para a autonomia? Não há receitas universais, porque cada jovem é diferente e único nas suas capacidades e no seu ritmo de desenvolvimento.

Na prática, um dos princípios essenciais para todos os educadores, pais e professores, é orientar e ajudar os jovens, motivando-os para que se esforcem e façam aquilo que podem e devem fazer sozinhos, na realização das suas tarefas em casa e na escola. Assim, ganham autonomia no processo de aprendizagem.

Pede-se aos pais que ensinem os filhos a enfrentar desafios e a resolver problemas, em vez de lhes afastarem todos os obstáculos do caminho. Pequenas doses de adversidade na vida são um boa oportunidade para que eles cresçam e se tornem mais resilientes, mais fortes e mais capazes de lidar com a frustração. É no confronto com a realidade e na interação positiva com os outros que os jovens podem desenvolver competências pessoais, sociais e emocionais (por exemplo, o autoconhecimento, a automotivação, o autocontrolo, a empatia, a comunicação assertiva e a cooperação).

Educar exige regras e limites. Há circunstâncias em que os filhos precisam de supervisão para prevenir comportamentos de risco, que ponham em perigo a sua saúde ou a sua segurança e o respeito pelos outros. Quando necessário, os pais devem dizer “não” com amor firme. Nem tudo é negociável. Em última instância, os pais decidem.

Mas é bom que os filhos sintam algum espaço de liberdade para explorar o mundo à sua volta, arriscar, fazer escolhas e tomar decisões, ainda que cometam erros. Deste modo, poderão aprender com as suas experiências, reforçar a autoconfiança e adquirir o sentido de responsabilidade.

Educar é promover a autonomia responsável e solidária. A educação na família e na escola será tanto mais eficaz, quanto mais depressa os jovens se tornarem autónomos e aprenderem a voar sozinhos. Educar é libertar.

 António Estanqueiro
Professor e Formador

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