Dar um passo atrás

Lígia Silveira, Agência ECCLESIA

Gostaria de fazer uma ode ao silêncio, mas não sei se sou capaz.

Gostaria de sublinhar a capacidade de escuta; queria enaltecer o tempo que fica entre o que escutamos e os segundos que se instalam antes que o ímpeto nos faça sair da boca palavras que retiram significado, honra, inteireza ao que nos entregam.

Porque não fazer silêncio? Que nada tem de indiferença, vazio ou incapacidade de percepção…

Porquê a necessidade de uma palavra, porquê a veleidade de querer ter sempre a resposta pronta, acutilante, assertiva, antes ainda de deixar que o que se escuta se torne em nossa carne, nosso sangue, se torne nossa vida porque nos foi dado, em forma de palavra, de abraço ou olhar, para cuidarmos?

A cultura da velocidade, do imediato, da resposta pronta esgota-nos, retira sensibilidade, espaço para a empatia, para criar relação – quando na verdade é isso que todos procuram: ser relação, estar em relação.

Dar um passo atrás é hoje uma audácia?

Querer encontrar o espaço para fazer a síntese, para integrar, perceber que horizontes se abrem internamente, que caminhos novos se desenham com outras ideias?

A urgência de preencher o tempo, da utilidade, da palavra certa, pronta, do reconhecimento da inteligência, sem deixar que o tempo seja tempo, que o silêncio seja cheio, esgota-nos antecipadamente o caminho.

Dar um passo atrás é ganhar o espanto, é encontrar surpresa, é acreditar que o tanto que ainda não foi dito nos liga e respeita o que somos e o que entregamos para ser mais.

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