«Dignitas infinita»: Nova declaração sublinha «absoluta dignidade das pessoas com deficiência» – Carmo Diniz

Responsável portuguesa considera que documento «vem reforçar tudo o que a Igreja disse sobre a deficiência» e que existe um caminho «ainda longo» por fazer na «aplicação prática»

Lisboa, 08 abr 2024 (Ecclesia) – A diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), da Conferência Episcopal Portuguesa, considera que a nova declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé vem sublinhar a “absoluta dignidade das pessoas com deficiência”.

“Esta declaração vem reforçar muito a dignidade da pessoa independentemente da sua circunstância, e o cardeal Víctor Fernández [prefeito do Dicastério] fala muito nisto, sempre, independentemente da sua circunstância”, afirmou Carmo Diniz, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O documento, com o título ‘Dignidade infinita’ apresentado hoje em conferência de imprensa, rejeita a cultura do descarte e apela a uma “inclusão e participação ativa na vida social e eclesial” de todos aqueles que “são marcados pela fragilidade e deficiência”.

“Julgo que esta declaração não traz de novo, ou melhor, esta declaração vem reforçar o que tem sido dito desde há muito tempo, desde o Papa João Paulo II, Papa Bento XVI, Papa Francisco”, destacou a entrevistada.

O documento, na sua elaboração, redação, vem reforçar tudo o que a igreja já disse sobre a deficiência e depois na aplicação prática é que nós vemos que temos aqui, quer um caminho na sociedade, quer um caminho na igreja para fazer, ainda longo”

Carmo Diniz indica que, na apresentação do documento, o que mais a surpreendeu foi a vertente da implicação da sociedade e a Igreja neste contexto, abordada pela professora Paola Scarcella, responsável pela Catequese para pessoas com deficiência da comunidade católica de Santo Egídio.

“Na sua intervenção, vem destacar muito a necessidade de sermos construtores da vida independente das pessoas com deficiência, pergunta o que é que acontece depois da escola, como é que as pessoas podem alcançar uma vida independente, como é que vão encontrar trabalho, como é que vamos, como sociedade, garantir que as pessoas com deficiência não tenham como única alternativa a institucionalização”, explicou.

A responsável católica considera que a “cultura do descarte está a crescer” e que “isso é muito preocupante”.

“Em 2024 já devíamos esperar que a dignidade humana fosse um bem adquirido, nós já temos muitos anos de refletir sobre estes temas”, aponta, referindo que este é também um alerta presente na carta encíclica ‘Fratelli Tutti’, do Papa Francisco.

Sobre a independência das pessoas com deficiência, a diretora do SPPD ressalta que para cada caso tem de se encontrar “as condições próprias”.

Carmo Diniz admite que as soluções são múltiplas e que na sociedade portuguesa esta reflexão tem sido feita com muita seriedade: “Está no princípio, está a começar, mas já tem alguns frutos”.

“Esta proposta de assistentes pessoais para as pessoas com deficiência tem mudado a vida de muitas, muitas, muitas pessoas, no sentido da sua atuação na sociedade e no sentido da sua vivência plena, isto inclui também a igreja, permitiu retirar as pessoas das instituições e dar-lhes uma vida própria, uma casa própria, emprego e tantas outras coisas mais”, adianta.

Ainda assim, a responsável admite que “não será só e apenas o facto de uma pessoa ter um assistente pessoal que faz com que a pessoa tenha uma vida independente, mas contribui em grande medida, é uma construção coletiva”.

No que respeita à participação ativa das pessoas com deficiência na vida eclesial, a entrevistada reconhece que esta é uma realidade crescente.

“Temos visto uma crescente participação no Sínodo mesmo das pessoas com deficiência, o Dicastério dos Leigos Família e Vida propôs uma consulta particular às pessoas com deficiência que têm trabalhado muito no tema e que propõem soluções muito concretas para a participação das pessoas com deficiência na vida da igreja”, realça.

A diretora do SPPD recorda que, na conferência de imprensa desta segunda-feira, Paolla Scarcella falou que o percurso catequético tem de ser pensado para as pessoas com deficiência, e chega a abordar uma ideia de “catequese permanente”.

“Tem de haver aqui uma solução de vida, de catequese, aliás a exemplo do que já acontece, nós temos um exemplo internacional que é o Movimento Fé e Luz que tem uma catequese permanente para as pessoas com deficiência intelectual e sente-se que esta proposta dá muitos frutos na vivência da fé, no crescimento, no desenvolvimento da fé, é um tema muito importante para a deficiência intelectual”, assinala Carmo Diniz.

LJ/OC

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