Um espantado místico de cada dia

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Dizer adeus ao padre João Aguiar é dizer adeus a um mestre. Para mim, como profissional da Comunicação e como aprendiz da palavra. Não recordo tanto o diretor, que será sempre uma referência, mas o “espantado místico de cada dia” – como pediu que o lembrassem –, que não me cansarei de ler.

O padre João era um homem que via palavras. Palavras com peso, que ajudam a dar sentido a essa passagem, capazes de iluminar o céu, inspirando o sentimento de algo diferente e colocando-nos nas mãos do que nos Transcende.

Ele sempre soube que estamos entre o que fomos e o que havemos de ser. Nesta passagem, todos temos de inventar palavras que nos definam – o padre João tinha o raro dom de já as ver.

Simbolicamente, o seu último livro acaba com o poema “Chegar”:

Quando, em viagem, nos aproximamos da “nossa” estação terminal, há uma espécie de ritual sempre repetido: levantamo-nos uma centena de metros antes, vestimos e alisamos o casaco, descemos a mala da bagageira horizontal e, a passo discreto, vamos procurando a porta…

A meio caminho deitamos um último olhar ao “nosso” banco: “Não, não esqueço nada!”

Chegar é um verbo cheio. Nalgum contexto significa mesmo bastar; noutro quer dizer alcançar ou aproximar-se.

Oiço chiar as linhas, retorcem-se as vértebras cansadas, olho o banco destes metros…

“Chegar” é um verbo alegre! 

Boa chegada, padre João. Obrigado por tudo.

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