Síria: Religiosa portuguesa alerta para agravamento da crise económica

Irmã Maria Lúcia Ferreira adianta que quem não tem «reservas de dinheiro» vive «a pão e água»

Síria_Foto AIS

Lisboa, 31 ago 2021 (Ecclesia) – A irmã Maria Lúcia Ferreira, religiosa portuguesa que vive na Síria, afirma que há pessoas que «a pão e água», alertando para a crise económica está a deixar profundas marcas no quotidiano das populações.

“Está a ser muito difícil. Aqueles que tinham algumas reservas de dinheiro para o futuro, estão a gastá-lo pouco a pouco. Aqueles que não têm vivem a pão e água”, disse a religiosa ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pela fundação pontifícia, a irmã Maria Lúcia Ferreira sublinha que a vida “está cada vez mais difícil” e exemplifica que “os produtos cada vez mais caros”, seja a comida mas, sobretudo, as roupas.

“Uma peça de roupa [custa] quase metade de um salário, tal como um quilo de carne”, exemplifica.

A religiosa portuguesa, da Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia, vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, e adianta também que há falhas no fornecimento de eletricidade, dificuldade no acesso ao gás e nos combustíveis, com “muita falta de gasolina”, o que obriga as famílias a “calcular onde é que podem ir com a gasolina que recebem”.

“No verão diziam que ia haver apenas duas horas de eletricidade por dia, o que não dá para o congelador conservar a comida, nem para o frigorífico. Também ter gás para um mês inteiro é extremamente difícil, uma botija de gás só chega a cada família a cada mês e meio, mais ou menos”, desenvolveu.

“No mosteiro temos um bocadinho de sorte porque estamos na linha do poço que bomba a água para a vila e temos mais eletricidade do que em Qara”, acrescentou.

Segundo a irmã Maria Lúcia Ferreira, a crise económica está também a afetar os projetos humanitários e de desenvolvimento que as religiosas promovem no Mosteiro de São Tiago Mutilado, como o projeto das lãs, que “procura dar trabalho e ser uma fonte de rendimento extra para as mulheres da vila de Qara”.

“Eu comprava a lã a 3 mil liras sírias há um ano e meio. Agora, passou a 25 mil o quilo, é enorme a diferença”, explicou.

A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre apoia diversos projetos solidário da Igreja na Síria, e destaca a campanha ‘uma gota de leite’ para as crianças, desenvolvida desde 2015 em Homs e, desde 2017, em Alepo.

“Tem sido um dos mais acarinhados pelos benfeitores portugueses. É raro o dia em que não recebemos uma carta ou um telefonema de alguém a querer ajudar as crianças de Alepo ou de Homs, a querer dar leite para os meninos da Síria”, assinala a diretora da AIS em Portugal, Catarina Martins de Bettencourt.

A Síria está em guerra há dez anos e sofre também as consequências das sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos da América e pela também pela União Europeia, que prorrogou no dia 27 de maio as sanções por mais um ano, até 1 de junho de 2022.

A Síria é um país que está em guerra há dez anos (15 de março de 2011), sofre consequências das sanções económicas impostas ao regime de Bashar al-Assad pelos Estados Unidos e pela União Europeia; Em março, segundo dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), quase 5,6 milhões de habitantes fugiram para outras partes do mundo, enquanto 6,6 milhões de sírios estão deslocados no seu próprio país.

CB

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