Portalegre-Castelo Branco: Romarias de Páscoa levam dinamismo e vivacidade aos territórios mais isolados

Investigador António Catana dá a conhecer o caso de Proença-a-Velha onde pontifica a devoção a Nossa Senhora da Granja

Fotos: Alexandre Gaspar

Proença-a-Velha, 22 abr 2019 (Ecclesia) – As romarias de Páscoa no Concelho de Idanha-a-Nova, Diocese de Portalegre-Castelo Branco, junto à fronteira com Espanha, assumem-se há vários séculos como pólos essenciais de dinamização deste território.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o investigador António Catana destaca várias iniciativas deste género que acontecem durante este período, muitas de cariz mariano, como “as romarias em honra da Senhora do Almortão, da Senhora da Consolação, da Senhora da Graça, da Senhora da Azenha e da Senhora da Granja”.

“Estas são algumas das nossas grandes tradições e especialmente na Semana Santa e nos dias de romaria mantêm aqui imensa gente”, salienta aquele responsável, que realça a importância das romarias para a sobrevivência destas zonas, tradicionalmente mais de “emigração” e por que mais isoladas ou periféricas.

“A partir dos anos 50, 60, tivemos o êxodo deste interior, não só da nossa região, mas de todo o Portugal. Mas aqui temos essa experiência, de que as pessoas mais do que nunca regressam, especialmente nesta altura da Semana Santa. Elas vêm porque viram os seus pais, viram os seus avós ligados a estas tradições e procuram vivê-las com muita vivacidade, e encantam também aqueles que nos visitam”, aponta António Catana.

Hoje decorreu na localidade de Proença-a-Velha a romaria em honra de Nossa Senhora da Granja, uma iniciativa religiosa que, segundo aquele historiador, “nos transporta quase para os tempos da fundação de Portugal” e da Ordem de Cristo.

A partir do século XII, o Concelho de Idanha-a-Nova teve sete castelos templários, incluindo um em Proença-a-Velha, onde a Ordem de Cristo teve também uma quinta, denominada Quinta de Santa Maria, que contava com uma pequena ermida.

Nessa quinta, ou granja, havia uma pequena ermida de devoção mariana que mais tarde passou a chamar-se Nossa Senhora da Granja.

“Em 1711 poderemos ver que o frei Agostinho de Santa Maria refere que uma das imagens milagrosas era de facto a imagem de Nossa Senhora da Granja”, recorda António Catana, que destaca também a ligação desta romaria à temática das colheitas, em ação de graças pelos bons frutos recolhidos.

Todos os anos, o programa da Romaria de Nossa Senhora da Granja reúne gente de vários lugares próximos entre si: Santa Margarida, São Miguel de Acha, Pedrógão de São Pedro, Bemposta, Medelim e Proença-a-Velha.

Os romeiros, que antes chegavam ao santuário a pé ou de carroça surgem hoje no santuário na sua maioria de automóvel, a meio da manhã.

Antes da Missa, por volta do meio-dia, os participantes têm a oportunidade de passar os olhos pelas bancas de produtos agrícolas que tradicionalmente são montadas na zona circundante à Ermida de Nossa Senhora da Granja.

Outros aproveitam para preparar o espírito, apreciando a calma dos campos e da natureza.

“Os campos todos floridos, as giestas, os raminhos, as estevas, todo este ambiente que existe, é de facto encantador vir aqui passar um dia durante este tempo pascal”, reconhece António Catana.

Depois da Eucaristia e da procissão à volta do recinto, o povo junta-se à sombra das oliveiras que rodeiam a ermida, para o almoço.

“As famílias juntam-se por grupos e comem o seu farnel, neste local sagrado, que tantos anos passados continua a ser um lugar de convívio, de confraternização. Pode faltar um ou outro familiar, mas a grande força interior que liga estas pessoas faz com que voltem sempre nesta altura”, reforça o investigador.

Neste ambiente de festa, são várias as iguarias que desfilam à mesa: pastéis de bacalhau, galinha frita, ovos verdes, balhós de carne, enchidos, borrego, já para não falar nos bolos da Páscoa.

“As pessoas procuram vir à sua terra natal, porque lhes dá paz, lhes dá tranquilidade, esta paz dos campos, tudo sereno. Tudo isto os enche e por isso continuam aqui quer na Semana Santa quer depois”, sustenta António Catana.

Depois do repasto, “ninguém parte sem se despedir da Senhora”.

As pessoas despedem-se junto ao portal da igreja, ao som dos adufes –  “normalmente as mulheres são as portadoras e exímias tocadoras desses instrumentos” – e dos acordeões, cantando quadras populares como esta:

“Nossa Senhora da Granja, da Granja e da Granjinha, chamai-me Vós afilhado, qu’eu Vos chamarei Madrinha!”

Porque, como salienta António Catana, “quem canta reza duas vezes!”.

JCP

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