Natal: Festa da Comunidade Vida e Paz apoiou mais de 1200 pessoas em situação de sem-abrigo

«Não apenas neste dia, mas durante todo o ano e todas as noites faz presépio na cidade» – D. Manuel Clemente

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 19 dez 2022 (Ecclesia) – A Comunidade Vida e Paz, instituição do Patriarcado de Lisboa, apoiou 1263 pessoas em situação de sem-abrigo, os seus convidados da 34ª Festa de Natal, que realizou entre 16 e 18 de dezembro, na cantina da Cidade Universitária.

“Este regresso está a ser fantástico. O ano passado já tínhamos regressado à cantina com alguns serviços limitados e também com a lotação limitada por causa das regras da Covid-19. Temos um balanço muito, muito positivo; Hoje já não temos entrada com convite, o domingo é o dia que servimos o bacalhau, temos a Eucaristia, há sempre mais afluência dos convidados”, explicou Margarida Salgueiro, uma das coordenadoras gerais da festa, em declarações à Agência ECCLESIA.

A Comunidade Vida e Paz, Instituição Particular de Solidariedade Social do Patriarcado de Lisboa, um “projeto integrado desde a rua à rua”, que também assenta a atividade na reabilitação e no tratamento, realizou a sua Festa de Natal para pessoas em situação de sem-abrigo e de fragilidade social, entre sexta-feira e este domingo, na cantina da Cidade Universitária.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

“O presépio na cidade é isto, é onde se vai ao encontro das pessoas e onde se percebe que Jesus continua nelas, e é ai que precisa de ser cuidado, acompanhado, alimentado, vestido, guardado, e, portanto, onde isso aconteça há presépio”, disse o cardeal-patriarca de Lisboa, em declarações à Agência ECCLESIA.

D. Manuel Clemente salientou, antes de presidir à celebração da Eucaristia, que a Comunidade Vida e Paz não apenas neste dia, na Festa de Natal, “mas durante todo o ano, e todas as noites, faz, presépio na cidade”.

A diretora-geral da CVP destacou a “adesão muito grande” de pessoas à 34ª edição da festa, que se realizou com o apoio de 669 voluntários, e partilhou que esperam “conseguir o objetivo da instituição” que é “provocar a mudança nas pessoas, permitir que elas possam dar a volta e sair da situação em que se encontram”.

“Aqui contactamos com muitas das pessoas que todos os dias na rua em Lisboa, na Amadora, contactamos através das esquipas de voluntários de rua e através das equipas técnicas. O grande objetivo é que aqui os técnicos possam continuar um trabalho no sentido de provocar a motivação a partir do estabelecimento de uma relação de confiança para que as pessoas tomar uma decisão”, desenvolveu Renata Alves, lembrando que este “é um processo difícil”, cada pessoa tem o seu tempo.

“Mas não desistimos, e, muitas vezes, percebemos que é aqui que se instala a semente e depois vai produzindo a possibilidade da pessoas ser integrada numa das nossas repostas ou outra”, acrescentou.

Foto: Agencia ECCLESIA/HM

Paulo Pires, utente da Comunidade Vida e Paz, recordou que foi por causa do seu “passado relacionado com as drogas” que conheceu “esta lindíssima família” que hoje também apoia, bem como aos seus convidados, depois de passar “muito mal por causa do consumo”.

“Mais tarde percebi que esta casa me devolveu a dignidade como homem e mostrou-me que era possível recuperar e ter um futuro melhor, ter objetivos na vida, e até me devolveu alguns sonhos que tinha e que perdi com o consumo de drogas”, disse à Agência ECCLESIA.

O voluntário da equipa de motivação da festa de Natal quer ajudar as pessoas a terem a mesma oportunidade, por isso, falou “com algumas pessoas, de alguma maneira a incentivá-los a irem para tratamento, outros para a comunidade de inserção”: “Custa-me imenso ver pessoas em situação de sem-abrigo e algumas com consumos de álcool ou drogas, principalmente as pessoas mais jovens, que há imensas na rua”.

“Se puder fazer alguma coisa por elas, farei com todo o prazer, é um bocadinho espírito de missão”, salientou Paulo Pires.

O professor universitário João César das Neves chamou a atenção para o facto de ainda existir tanta gente necessitada, esquecida, e abandonada na rua, que “a questão fundamental não é económica, não é política, é mesmo espiritual, é mesmo o pecado, é mesmo a maldade do ser humano”.

“O problema é que acontece em todos os sistemas, já experimentamos tudo, todas as políticas, todos os regimes. Isto não quer dizer que devemos abandonar os esforços económicos, há muito a fazer, os esforços políticos, há muito a fazer, é extraordinário que tendo tentado tanta coisa os fenómenos reaparecem, a pobreza é uma coisa contra a qual temos de lutar toda a vida sabendo que nunca a vamos vencer mas temos de continuar a lutar”, desenvolveu o economista à Agência ECCLESIA.

Sobre o futuro, a diretora-geral da Comunidade Vida e Paz disse que estão “bastante preocupados com a situação que o país está a atravessar, do mundo, de certa forma”, uma vez que o número de pessoas em situação de sem-abrigo “tem aumentado apesar de haver muitos esforços e terem sido criadas muitas respostas para as pessoas nestes últimos dois anos”.

“A preocupação é que mais pessoas possam vir a estar na situação de sem-abrigo; Por outro lado estamo-nos a confrontar com muitas famílias em situação de grande vulnerabilidade social, e essas pessoas estão a pedir-nos ajuda. Os números de pessoas com as quais contactamos todos os dias estão entre as 460 a 500 pessoas”, acrescentou Renata Alves.

Esta responsável alerta para “a inflação e a situação económica que está a afetar muito as IPSS”, que recebem “muito menos donativos em géneros e numerário”, os preços aumentam e, em 2023, podem “fechar serviços”; As comparticipações do Estado para as comunidades terapêuticas “não são atualizadas desde 2008”.

A 34ª Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz apoiou 1263 convidados, destes 54 eram crianças, que tiveram acesso a vários serviços na área da Cidadania, apoiada por profissionais de várias entidades: 196 atendimentos no Espaço Aberto ao Diálogo, 109 na Segurança Social, 44 no Instituto dos Registos e Notariado, 56 Instituto do Emprego e Formação Profissional, 33 na Santa Casa da Misericórdia e 13 atendimentos no Apoio Jurídico.

Neste três dias, no setor da saúde, registaram 154 consultas médicas, 154 rastreios de doenças cardiovasculares, 22 rastreios da tuberculose, 75 atendimentos de saúde oral, 21 rastreios de doenças sexualmente transmissíveis, 42 atendimentos na tenda de primeiros socorros, seis fibroscans e foram administradas 52 vacinas da gripe, 48 contra a Covid-19 e três vacinas do tétano.

Na zona dos duches e barbeiro foram prestados mais de 132 atendimentos, 214 cortes de cabelo, e foram distribuídas mais de duas mil refeições, 7 mil e 710 peças de roupa e tiraram 220 fotografias na área ‘Olhó Passarinho’ aos convidados da Festa de Natal para pessoas em situação de sem-abrigo e de fragilidade social da Comunidade Vida e Paz.

HM/CB

 

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