Economia portuguesa não se adaptou à globalização

Portugal lidou “mal com a globalização” e “fomos talvez a economia europeia que pior se adaptou à globalização” – sublinhou o economista João Ferreira do Amaral, no Simpósio «Reinventar a solidariedade (em tempos de crise)», a decorrer, hoje (15 de Maio) em Lisboa. Com mais de mil participantes no Centro de Congresso desta cidade, o economista ao fazer o diagnóstico da situação actual aponta algumas razões: “Estagnação da economia, aumento do desemprego, endividamento das famílias e endividamento da economia portuguesa em relação ao exterior”. A melhor maneira de ultrapassar a crise é “reinventar o modelo civilizacional” – pediu Isabel Carvalho Guerra, professora da Universidade Católica Portuguesa. Todo o ser humano deve esperar respostas. A raiz da actual situação não é meramente económica e a “ausência de valores é uma das causas” – frisou. Ao fazer o diagnóstico da realidade actual e nesta auto-estrada de busca de caminhos, João Ferreira do Amaral adianta que “a nossa economia está estagnada desde o início do milénio” e que o “envelhecimento progressivo da população portuguesa” é notório. “Fomos empurrados” para um modelo civilizacional que “nos leva para o absurdo” onde “a importância do ter ganha preponderância sobre o ser” – lamenta Isabel Carvalho Guerra. Torna-se extremamente difícil lidar com o “aumento gradual do desemprego” e, especialmente, aquele “que incide sobre o jovens”. E acrescenta João Ferreira do Amaral: “retira-lhes perspectivas de vida e pode desviá-lo para caminhos malévolos”. O aumento rápido do endividamento das famílias – este já vem deste a década de 90 – trouxe “situações aflitivas”. Como era fácil obter crédito junto dos bancos, muitos dos casais que se “endividaram confiaram em dois ordenados”. O endividamento da economia portuguesa em relação ao exterior é um dado preocupante. “Este pode atingir os 100% do Produto Interno Bruto” – avançou Ferreira do Amaral. Como o comércio externo desceu “de forma brusca”, o economista aconselha a “sustentar a actividade económica para o mercado interno”. A solução à crise não é económica mas cultural e política. A sociedade do futuro não será uma mesa da abundância. Perante esta situação, deverá existir “uma repartição mais justa, onde o ser predomine sobre o ter” – disse a professora da UCP. Numa sociedade “narcísica e egoísta”, onde o «Alto Risco» e sensação dominam, a professora da UCP afirma que “um quarto da população vive abaixo do limiar da pobreza”. Como a união faz força, a oradora aponta algumas pistas para ultrapassar a crise vigente: “novas formas de regulação social, repensar as instituições e reforçar as instâncias de socialização”. O mundo actual “não traz igualdade, mas a mudança é possível”. “Não podemos continuar na filosofia de cada um por si” – finaliza Isabel Guerra.

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