«Ad Limina» 2024: «Nós tomamos isto a sério», diz D. José Ornelas sobre crise dos abusos sexuais

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assinala ainda temas dos jovens, Sínodo, crise social e migrações, antes de encontros com o Papa e organismos da Santa Sé

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 19 mai 2024 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse que os bispos vão levar ao Vaticano uma “visão realista” da realidade da Igreja, que inclui a crise provocada pelos abusos sexuais.

“Nós tomamos isto a sério, porque achamos que não se brinca com os sentimentos e a dor das pessoas”, declarou D. José Ornelas, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

A visita ‘Ad Limina’ dos bispos católicos ao Vaticano, que vai decorrer entre os próximos dias 20 e 24, acontece pela primeira vez desde setembro de 2015 e inclui encontros de trabalho com responsáveis dos organismos centrais de governo da Igreja Católica, os Dicastério da Santa Sé, e uma audiência conclusiva com o Papa Francisco.

A CEP recebeu, em fevereiro de 2023, um relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, que validou 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022.

Após o final dos trabalhos desta comissão, o episcopado criou o Grupo Vita, para o acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis.

“Quem quer que tenha contactado com pessoas que sofreram injustamente este drama, sabe muito bem o que isso significa e, portanto, era para tratar a sério e é isso que nós estamos a procurar fazer”, indicou D. José Ornelas.

O bispo de Leiria-Fátima rejeita a ideia de que esta visita sirva para “dar contas” ao Papa, como se fosse uma “vistoria a uma multinacional”.

“Nós vamos, certamente, com vontade de ouvir, mas também levamos a nossa experiência de Igreja que é importante para o Papa, é importante para os organismos da Santa Sé que vamos visitar”, indicou.

A visita foi adiada, a pedido da CEP, para depois da JMJ Lisboa 2023, que marcou a vida da Igreja Católica em Portugal nos últimos anos.

“Nós não podemos dizer que esta é uma geração rasca. Esta é uma geração que arrisca e é uma geração que é capaz de se deixar motivar”, sustentou D. José Ornelas.

O presidente do episcopado entende que é preciso envolver as novas gerações na vida da Igreja, assumindo que há “um caminho a fazer, junto com estes jovens”.

Por outro lado, também é verdade que os jovens não se reveem em tudo o que a Igreja diz. Falta uma linguagem comum, e estas novas linguagens não são simplesmente uma questão da tradução, mas são um modo de ‘estar com’, de fazer com que os jovens tenham uma palavra a dizer”.

O presidente da CEP destaca ainda o processo sinodal 2021-2024, lançado pelo Papa, para pedir “novos modos de contacto, de partilha, de corresponsabilização”.

“Habitualmente os cristãos são destinatários de uma mensagem e não é que isso esteja mal, mas não pode ser só assim. O Espírito fala por todos, é importante destacar a dignidade de todos participarem na Igreja”, sustenta.

Questionado sobre casos de agressões e insultos racistas, em Portugal, D. José Ornelas lamenta a “manipulação” de pessoas contra os imigrantes, apontando o dedo a organizações que trabalham para promover a “rejeição” de quem é diferente e se baseiam em “extremismos ideológicos”, lamentando que alguns discursos políticos “vão ainda acentuar discrepâncias dessas”.

“A nossa lei facilita a entrada das pessoas, mas isso não chega. É preciso depois que essas pessoas se sintam integradas”, assinala ainda.

O bispo de Leiria-Fátima leva na bagagem a preocupação com muitas instituições sociais que “estão mesmo em grande dificuldade”, assumindo que é preciso “fazer alguma coisa”.

“Se fosse o Estado a ter de fazer tudo isto, seria muito mais caro”, assinala.

O presidente da CEP apela ao reconhecimento do papel destas instituições para “o bom funcionamento do país”, para lá de “qualquer ideologia”.

“Têm de ser devidamente sustentadas, para que não colapsem, como acontece com outras áreas da nossa vida, como o Sistema Nacional de Saúde, neste momento”, defende.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

Igreja/Portugal: Bispos visitam Papa e organismos da Santa Sé, de 20 a 24 de maio

 

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