Cinema: Uma Comédia Inglesa…

Quando a comédia inglesa se libertou, finalmente, da subordinação fatal à série “Carry on..”, uma sucessão de farsas que dominou os anos 60 e 70 do Século XX, não conseguiu de imediato retomar o saboroso humor britânico que caracterizara muitas obras de anos anteriores. “Sete Vidas por um Título”, “O Quinteto Era de Cordas” ou “Quatro Gatos Pingados” são exemplo de filmes que ficaram perdidos no passado ou foram revistos em reposição ou em suporte televisivo. De então para cá surgem, esporadicamente, bons filmes de humor, como “Notting Hill” ou “Queres Ser John Malkovich?”, mas não se voltou a ver uma continuidade de produção capaz de manter o normal fluxo de estreias. “Morte num Funeral” vem dar mais um passo no bom caminho, mesmo que se trate de mais uma obra isolada no contexto da produção inglesa. Retoma-se o humor inteligente, bem construído, sem necessidade do recurso sistemático à farsa ou ao mau gosto, seja de linguagem seja de situações criadas. Há mesmo uma certa elegância na forma como se apresentam as situações mais passíveis de tratamento agressivo, que mais divertidas se tornam em função do cuidado com que se rodeiam. Duas linhas mestras são seguidas pelo enredo: um caso de chantagem verdadeiramente épico e a troca acidental de comprimidos de um calmante por uma droga alucinogénia, tomada inadvertidamente por mais de uma pessoa. Entre os efeitos da segunda e as sucessivas tentativas para vencer a primeira os filhos do defunto interrompem por diversas vezes a cerimónia fúnebre, mas acabam por vencer os seus próprios conflitos e formar uma equipa familiar coesa. Pode-se mesmo dizer que o filme é moralista, mas dentro do contexto de comédia em que os acontecimentos mais graves são tratados com ligeireza para deles se observar apenas a vertente humorística, esta era a única solução, para que um filme divertido terminasse num final, feliz. Francisco Perestrello

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