Carnaval da Campanhã brinca com a «insegurança»

O Padre Fernando Milheiro, pároco da Campanhã, relata os medos dos habitantes daquela área do Porto. Agência ECCLESIA (AE) – “O mundo (e Campanhã) tremem de medo” é o lema do carnaval deste ano em Campanhã, Porto. Porquê este tema? Pe. Fernando Milheiro (FM) – O tema deriva do acentuar de alguns problemas nesta área. Desde o último Verão, o número de assaltos aumentou. Sabemos quem são as pessoas mas não podemos fazer nada. Durante um funeral, à vista de toda a gente, assaltaram a viúva do morto. Na sacristia, enquanto os acólitos levavam as galhetas para o altar, levaram-lhes roupa e telemóveis. Os assaltos tornaram-se comuns. AE – É caso para ter medo. FM – Temos à porta o bairro do Lagarteiro mas já estava domesticado. Com a saída das pessoas do Bairro de S. João de Deus, os «gangs» voltaram e também a descaradez. A polícia não pode fazer nada. AE – Com este tema não acha que pode ser uma provocação para os «gangs»? FM – Não. A insegurança é enorme. Nos últimos tempos incendiaram uma retroescavadora das obras. É preciso uma política de vigilância porque a sensação que o povo tem é de total impotência. AE – Situações preocupantes. FM – A população sabe que quando há um ataque não se pode resistir. É preocupante para as pessoas idosas. Vemos a gente nova a crescer neste mundo sem lei onde o respeito pela integridade e pela vida não existe. AE – Aproveitam a folia carnavalesca para demonstrar as vossas preocupações? FM – Iremos brincar com a insegurança existente. A polícia, com os meios que tem, não pode fazer nada. Quando a polícia aparece, eles já estão em casa. AE – Então a agressividade é reinante. FM – A freguesia de Campanhã apanha a zona da Areosa, Cerco do Porto, S. Vicente de Paulo e Lagarteiro. Zonas de bastante marginalidade. AE – Pelo menos nos próximos dias a folia virá para a rua. FM – Sim. Os vários grupos da paróquia e da Associação Nuno Alvares levarão a alegria para a rua. AE – Será que após o corso a situação sofrerá alterações? FM – As coisas não se alteram com coisas pequeninas. O Carnaval é mais uma gotinha de água para alertar. Os cristãos da paróquia vão fazendo a sua proposta que está numa linha diferente: educação das crianças e jovens. O contraste também educa. Muitos são explorados por gente mais interesseira. AE – À Igreja compete educar. FM – Sim mas aqui temos só uma percentagem de 5% de praticantes. Até fazemos barulho de mais para aquilo que somos.

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