Ao ritmo da terra

Lígia Silveira, Agência ECCLESIA

Dou comigo a parar a meio do caminho quando sinto o doce cheiro a flores que paira no ar nestes dias de sol e maior luz. Dou por mim a procurar a origem deste convite a novo, com uma respiração revigorante que entra nos pulmões e faz despertar os sentidos, como se estivessem adormecidos na chuva, para além da neblina.

Que promessa é esta que as cores iluminadas, as fragâncias no ar, o canto dos pássaros ao despontar da manhã faz acordar?

É a certeza da vida a recomeçar para além do calendário das estações, invitatório ao manifestar dos sentidos. Não é tanto o calor, que o corpo já tem saudades, mas a promessa que as primícias vêm trazer.

Cresce o verde, o ar torna-se claro e limpo, o céu fica mais azul, as nuvens são mais fofas e carregadas de sonhos possíveis.

Talvez seja este o tempo para escutar o que no silêncio da terra húmida foi germinando, o que os pensamentos iluminados pela claridade tateiam e balbuciam, o que os passos friorentos aligeiram sem pressa, num convite a escutar, a permanecer ao ritmo do que nasce, a perceber o que em cada um de nós é chamado à reconstrução.

Não será por acaso que a Quaresma se vive na primavera, tempo de perfume, brilho e cor, de promessa e certeza de que fazemos parte deste caminho, e de que «Alguém no invisível nos espera (…) Alguém que nos chame pelo nome/E nos acolhe ao termo da viagem» (José Augusto Mourão).

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