«Amoris Laetitia»: Afastamento da Igreja para casais irregulares pode ser «catastrófico»

Casal Vera e Diogo Pais testemunham o processo de discernimento que atravessaram e como «sempre» se sentiram acompanhados pela Igreja

Lisboa, 08 abr 2019 (Ecclesia) – O casal Diogo e Vera Pais considera que o afastamento da Igreja para casais em situação irregular “pode ser catastrófico para as suas vidas” e que no seu processo de discernimento sempre se sentiram “em casa”.

Diogo Pais, que protagonizou com a esposa Vera um caminho de discernimento que os afastou, por um período, das práticas sacramentais, fruto de um primeiro matrimónio, dá conta da importância de se terem sempre sentido Igreja.

“Sentimo-nos sempre parte desta Igreja. Tudo na vida tem coisas boas e menos boas. Houve fases do processo, depois da nulidade, que foram exasperantes, pela demora e incerteza, mas nunca deixámos de sentir que estávamos em casa”, recorda à Agência ECCLESIA Diogo Pais, Professor de Anatomia e Ética Médica na Universidade Nova de Lisboa.

O Papa Francisco propõe na exortação apostólica «Amoris Laetitia» sobre a família, publicada a 8 de abril de 2016, um caminho de “discernimento” para os católicos divorciados que voltaram a casar civilmente, sublinhando que não existe uma solução única para estas situações.

Em todo o processo “não há fórmulas”, sublinha Vera, aquiteta na Câmara Municipal de Lisboa, que indica ser esta a forma como “a Igreja faz caminho”, também através “dos leigos”.

Juntos há cerca de 15 anos, logo no início da relação a situação do primeiro matrimónio do Diogo “se colocou”, uma vez que progredir no relacionamento significava colocar Vera numa opção não equacionada para a sua vida.

“Eu sentia que a terra me fugia debaixo dos pés, que tudo a que eu aspirava de coerência de vida me fugia. Obrigou-me a virar-me do avesso e a tentar perceber se isto que Deus me propunha era um caminho que me ajudava a mim a ser mais pessoa, a ser mais amor, e se ajudava o Diogo”, explica à Agência ECCLESIA.

Acompanhada pela sua comunidade de vida cristã (CVX, de espiritualidade inaciana) e por pessoas dentro da Igreja, Vera afirma nunca se ter sentido sozinha no processo e ter recebido apoio de “diferentes espiritualidades”.

“Eu pertencia a uma CVX e disseram-me: «Olha Vera, esta não seria a minha opção, mas quero fazer este caminho contigo», e isto foi muito bonito. A partir daí o Diogo passou a ir a algumas reuniões de oração”.

Vera e Diogo celebraram o seu matrimónio em 2012 mas começaram pela união civil no dia 28 de junho de 2007; dois dias depois fizeram uma festa com os amigos, momento em que a arquiteta assinala ter sentido a presença de Deus.

O casal afirma que o sacramento do matrimónio “não era determinante, mas fazia sentido” no seu percurso.

“Estes caminhos mais difíceis são mais estruturantes, consolidam uma relação nos alicerces que são verdadeiramente importantes”, sintetiza Diogo.

Vera explica a importância de não “criar uma «igrejazinha»” à sua medida e de fazer o caminho para transformar “em bem o que tinha sido fonte de sofrimento”.

“Ter o apoio dos pares que passam pelo mesmo e ajudam a perceber o que faz sentido foi um auxílio para não construir uma Igreja à medida do Diogo e da Vera”.

“Percebemos que havia tanta gente com as mesmas dores e dificuldades, inclusivamente pessoas que não se sentiam tão acolhidas em Igreja e que nós poderíamos ajudar”, testemunha o professor de Anatomia.

A exortação apostólica sobre a Família  ‘Amoris laetitia’ (A Alegria do Amor), com nove capítulos, em mais de 300 pontos, é uma reflexão que recolhe as propostas de duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015) e dos inquéritos aos católicos de todo o mundo.

O testemunho de Vera e Diogo Pais foi emitido este domingo no programa de rádio da Antena 1.

LS

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