A minha terra ardeu…

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

“Rezemos pelo grito da Terra”: esta é a intenção de oração do Papa para setembro. Francisco faz uma constatação: a Terra está com febre e doente. E pergunta: “Nós ouvimos esta dor? Ouvimos a dor de milhões de vítimas de catástrofes ambientais?”.

Acho que a resposta às perguntas é clara: não ouvimos nada, não queremos saber, não nos chegou nada, não é connosco. Não podia vir mais a propósito do que aconteceu recentemente na Madeira.

A minha terra ardeu. Mais uma vez os incêndios lavraram ferozes, perto de casas e de terrenos agrícolas. O lume “lambeu” palheiros e galinheiros, sem lhes tocar de verdade. Portanto, dizem que está tudo bem! Estará?!

Não creio!… Embora o meu modesto grau de saber dê para perceber que ardeu mais do que apenas “mato” como por aí se diz, a verdade é que mesmo o tal “mato” tinha uma função importante de “prender os solos”.

Agora ninguém sabe o que vai acontecer. Mas há vários cenários que ocorrem à mente de quem já viu outros filmes parecidos. Surgem as primeiras chuvas e a rocha, sem o tal “mato” para a “agarrar”, vai correr encosta abaixo. Só Deus sabe onde irá parar e que estragos fará.

Os mais entendidos dizem que se a chuva vier devagarinho, empapando os solos, a coisa pode ser menos penosa, mas se chover a potes tudo será diferente. E com as pedras vai a terra que outrora servia para cultivo.

É por isso que não compreendo certas declarações acaloradas, só podem mesmo ser motivadas pelo calor do lume, de que não se perderam vidas nem bens, logo está tudo bem…

Felizmente que não se perderam vidas, claro que sim, de bens já não se pode dizer o mesmo, porque quem tinha castanheiros e nogueiras nas áreas ardidas ou outras pequenas plantações ficou sem colheita e as próximas podem ter ficado comprometidas pelas chuvas que vão levar, como já disse, o que restava de terra para lavrar.

Francisco tem razão: a terra está com febre e doente, mas o homem está ainda mais. E o pior cego é aquele que acha que um incendio hoje, outro daqui as uns anos e outro mais adiante, não faz com que o doente fique mais moribundo.

A minha terra ardeu durante 10 dias, mas isso não interessa para nada, nem a ninguém, porque não houve mortes a lamentar… E eu pergunto: o resto? Não será motivo para lamento…

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Agência ECCLESIA

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