A importância dos Centros Universitários Católicos

José Veiga, diocese do Porto

Quero contar-vos a história de uma rapariga apaixonada pelo Porto desde a sua infância. Uma paixão que cresceu ao tornar-se estudante da Academia do Porto. Imaginem o olhar maravilhado, como quem tira mais do que um 15 a um cadeirão do curso, pois, na cidade que tanto desejava viver e estudar, pôde apreciar e fazer sua nova casa as belezas que a “muy nobre e sempre invicta” tem.

No entanto, parecia que essa beleza não lhe bastava, faltava-lhe algo…

Muitas vezes, para um estudante católico, a transição para o ensino superior representa não estar tão presente na realidade dos grupos de jovens, nos quais cresceu e viveu a sua experiência de fé durante os anos de pré entrada no ensino superior. E, quando a ida para a faculdade implica uma mudança de residência, o teste à sua experiência de fé poderá revelar-se ainda maior.

Somos naturalmente pessoas feitas de rotinas, que nos ajudam a viver o dia-a-dia com tranquilidade. Aspetos do quotidiano da nossa vida nos quais se integra a experiência de fé.

Entre os prós e contras da rotina, isto é, de fazer sempre as mesmas coisas, sempre da mesma forma, tem tanto de confortável, como de estático. A nossa experiência de fé, pela sua complexidade, pede-se consistente, não rotineira.

Na verdade, chegados os momentos de desafio, esta forma rotineira acaba por influenciar a decisão de um estudante universitário continuar, ou não, com a sua experiência de fé no ensino superior, sendo a mesma, algumas vezes, afastada ou esquecida por não ser conciliável ou logisticamente possível.

Foi precisamente este desafio que a estudante universitária sentiu: o que lhe era pedido? Como jovem católica, onde era suposto inserir-se? Por onde passaria o seu percurso de fé durante estes anos cheios de desafios e ricos de novas experiências de vida, fundamentais no processo de crescimento e desenvolvimento de uma pessoa?

Veio a descobrir que esse algo que faltava, era aceitar que a entrada no ensino superior, também representava a entrada numa nova fase do seu percurso de fé.

Por “Deuscidência” esta estudante cruzou-se com os centros universitários católicos, locais de encontro para todos os estudantes da academia do Porto e arredores, que assumem um papel chave na continuação da formação cristã-católica, no aprofundamento da fé e no desafio a viver experiências de serviço e missão.

Dos vários centros, encontrou no Centro In Manus Tuas, conhecido por CIMT, uma segunda casa. Uma casa para estar, uma casa para crescer, onde pode estudar individualmente ou em grupo, utilizando os espaços para reunir com os seus grupos, movimentos e projetos. Neste centro é celebrada missa todas as quartas-feiras e há atividades culturais e lúdicas, de e para universitários.

Inscrito no ADN destes centros está uma casa de todos, para todos e por todos, inspirados pelo gesto de Jesus em não distinguir e afastar quem é diferente.

De um ponto de vista estratégico, os centros universitários vieram para ficar, na medida em que devem ser vistos pela Igreja como uma linha da frente no contacto e apoio aos universitários, a nível espiritual, formativo, cultural e social.

Apresentam-se não só como uma oportunidade para um estudante universitário continuar a viver uma experiência de fé, em contexto de ensino superior, mas também como um pólo de conhecimento e desafio para os estudantes que se afastaram ou nunca tiveram a oportunidade de viver a sua experiência de fé.

Em boa verdade, os centros universitários católicos vieram colmatar um vazio entre o final do ensino secundário e, eventualmente, o início da vida familiar.

Ao início poderá cair-se na tentação de caracterizar estes anos transitórios como uma ponte entre dois momentos de vida (final do ensino secundário e início da vida familiar). No entanto, deve ser reconhecido e valorizado como um momento da nossa experiência de vida e fé, por representar uma etapa de formação da pessoa, fundamental para os anos profissionais que se avizinham.

Interroga-se e afirma-se que os jovens não estão preparados, que são uma geração pouco consciente e capacitada para a dureza da vida profissional e “adulta”. São ainda rotulados como pessoas desinteressadas e que não querem participar nas várias atividades propostas. Perguntas legítimas, mas até que ponto conscientes?

De que vale questionar a preparação da próxima geração se não é feito o papel que é pedido?

Nestes momentos de transição e nova etapa de vida, como Igreja, que trabalho estamos a fazer? Estamos a fazer o acompanhamento e prestar o apoio que na verdade precisam? Ou aquele que achamos que precisam?

Em vez de discutirmos o porquê dos jovens não participarem, porque não falar sobre os temas que interessam aos jovens falar e discutir?

São perguntas que desafio a conduzirem a nossa reflexão, acção e a darem oportunidade aos nossos jovens universitários, os protagonistas: os novos líderes de hoje e os líderes mais velhos de amanhã!

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