«Há muitos imigrantes no mundo da escravatura»

Entrevista a D. António Vitalino, Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, que traça realidade imigrante em Portugal Agência ECCLESIA (AE) – Com a proximidade (18 de Janeiro) do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, a Igreja Portuguesa tem alguma iniciativa programada para este dia? D. António Vitalino (AV) – A Igreja Portuguesa associa-se à Igreja Universal e realizará uma actividade formativa para os Secretariados Diocesanos e Agentes de Pastoral das Migrações. Pretendemos sensibilizá-los para este fenómeno das migrações na área social, evangelizadora e comunicação Social. AE – Falta sensibilização nesta área? AV – Em princípio, os agentes estão sensibilizados, mas é necessária uma formação permanente para que estejam sintonizados a nível nacional e mundial. No entanto podemos afirmar que alguns sectores passam mais despercebidos: o fenómeno dos imigrantes. Quanto aos emigrantes, quase que não há uma terra ou família que não tenha algum membro que seja emigrante. O fenómeno dos imigrantes é, relativamente, novo, sobretudo, depois da descolonização. Vieram muito refugiados e retornados… AE – Refugiados? AV – Sim. Muitos vieram porque se sentiram ameaçados. Alguns colaboraram com o regime colonial e tiveram que deixar o seu país de origem. AE – No entanto, Portugal não tem tradição no acolhimento de refugiados? AV – Na época da descolonização acolhemos muitos. Actualmente, com a entrada de Portugal na União Europeia precisamos de mão-de-obra estrangeira. Com os projectos existentes, os imigrantes encontravam facilmente trabalho. Eram necessários para o desenvolvimento do país e Portugal quase que dependia deles. AE – Foram e são uma ajuda preciosa para “levantar” o país? AV – Muitas obras foram realizadas por imigrantes. AE – Portugal sabe acolher o “estrangeiro”? AV – Os empresários quando necessitam deles acolhem-nos muito bem. No entanto, nós temos de acolhê-los como pessoas antes de serem factores de trabalho ou de desenvolvimento económico. São Pessoas com Direitos e Deveres. Normalmente, os portugueses são conhecidos como hospitaleiros. Só que, aqueles que vêm para cá trabalhar, sobretudo em alturas de crise, estão a ameaçar os postos de trabalho e a sua subsistência. Gera-se um problema de inospitalidade, para não dizer xenofobia. AE – Sem esquecer os casos de escravidão e tráfico de seres humanos? AV – Temos também o caso de muitos agentes que fazem parte do submundo e procuram os seus escravos nos imigrantes, nas pessoas mais frágeis. Há muito imigrante metido no mundo da escravatura. Nestes casos, a Igreja tem de ser uma voz profética. Devemos agir para que a escravatura acabe. AE – A Igreja tem conseguido ser essa voz profética? AV – Temos tentado, mas nem sempre conhecemos todos os casos. É um mundo muito difícil de penetrar. Apesar das dificuldades, temos realizado várias acções de sensibilização e de ajuda a pessoas que caíram nessas malhas. Já libertámos pessoas desse submundo. Os agentes usam artimanhas que nos dificultam a missão. AE – S. Paulo usou a “artimanha” do “Evangelho”? AV – O apóstolo Paulo vai ao fundo da questão. Empenhou-se em anunciar a Boa Nova da libertação. S. Paulo penetrou nos vários meios e procurou levar a mensagem de libertação. AE – Basta ler as Cartas Paulinas… AV – S. Paulo apela para que a sociedade seja justa e onde vivemos como irmãos.

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