O que torna uma família sustentável?

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Dia 15 de maio foi o Dia Internacional da Família. Todos estamos conscientes de que o sustento e futuro da humanidade está na família. As famílias vivem hoje diversas dificuldades, desde económicas a sociais, ou mesmo ideológicas. Mas todos reconhecem que ela está na base da paz, justiça e de fortes instituições que garantem um desenvolvimento sustentável, tal como foi reconhecido pelas Nações Unidas.

Superar essas dificuldades passa por políticas mais justas tendo em conta o agregado familiar? …sim.

Ou elevar mais o papel da família na solidez do tecido social, sendo a sua célula base? …sim.

Ou testemunhar a beleza do amor conjugal, entre homem e mulher, como forma mais eficaz de combater demagogias ideológicas? …sim.

Mas tudo isto só é possível se se garantir dois aspectos fundamentais e que hoje, creio, correm risco de ser descurados.

 

O relacionamento do casal

A família contribui para um desenvolvimento sustentável se o relacionamento entre o casal o for também. Quando um homem e uma mulher se unem em matrimónio nasce o primeiro filho: o amor entre os dois.

Ao longo do tempo, esse filho berra, pede atenção, tem fome, mas com a vida tão atarefada, quando nos damos conta disso já é demasiado tarde. Depois, com a forma como os jogos, séries, redes sociais, ou em geral a internet se tornou viciante na vida de muitas pessoas, facilmente esses vícios influem sobre o amor entre os dois, criando um muro que pode um dia tornar-se intransponível.

Uma vez estava com a família num restaurante e observei que um casal, durante todo – literalmente todo – o tempo em que estiveram a jantar, fizeram-no olhando apenas para o seu telemóvel, sem trocarem uma só palavra. A um dado momento, ela bem tentou, mas o que ele estava a ler parecia ser mais importante.

É essencial dedicar tempo para estar a dois e ajudar a crescer o primeiro filho. Nesse período, pode ser tentador manter uma “comunicação de serviço” em vez de uma “comunhão de alma”, ou seja, daquilo que está no íntimo do coração de cada um. Manter essa capacidade de partilhar e escutar as coisas que estão no íntimo é tão (ou mais) salutar do que viver a intimidade conjugal.

 

A educação dos filhos

Com esta realidade do primeiro filho não há casais inférteis e a educação dos filhos passa, também, por educar esse primeiro filho. Mas quando os filhos biológicos fazem parte de uma família, a sua educação é essencial para a sustentabilidade familiar.

É cada vez mais frequente ver pais em que o modo de controlar os filhos significa passar-lhes um telemóvel para as mãos. Questiono se isso não é uma forma demissionária de enfrentar o desafio da educação.

Os nossos filhos, sobretudo os mais pequenos, falam-nos coisas que podem parecer realmente inúteis e pouco importantes. Mas quantas vezes não é esse exercício de escuta que educa a sentirem-se à vontade de um dia partilharem outras coisas mais importantes?

Num outro dia chamei a atenção do nosso filho para o facto de estar a ver demasiados vídeos no Youtube. Perguntei-lhe com toda a sinceridade a razão por se sentir atraído por esses vídeos. Ele é tímido e não conseguia expressar-se. Ficámos uns 10 minutos assim, praticamente em silêncio. Expressei o quanto me interesso pelo que lhe interessa, e que o amava independentemente das razões de ver vídeos. Mesmo assim ele não conseguia expressar os motivos. Abracei-o e fui-me embora, dando-lhe espaço. No final do dia explicou a razão (aprender estratégias em jogos) e percebi como ao fazer esta partilha se libertava de um peso.

Não há receitas para a educação dos filhos porque cada um é único. Porém, como é importante dedicar tempo (in)útil a isso para asseguramos a sustentabilidade familiar.

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Agência ECCLESIA

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