Apresentação de D. José Alves
A Igreja Católica, após a celebração do concílio ecuménico Vaticano II, tem mantido sempre uma atitude de apreço pelas comunicações sociais. E incentiva permanentemente todas as instâncias eclesiais ao uso das possibilidades que as novas tecnologias nos proporcionam para comunicar com as pessoas, ao perto e ao longe, dando assim cumprimento ao mandato do seu Senhor de anunciar a Boa Nova a todos os povos. E, se nem sempre está na vanguarda das tecnologias da comunicação, é porque ou não dispõe dos necessários recursos humanos e económicos ou não alcançou ainda os meios para equacionar os graves problemas que lhes estão associados, de forma a evitar os efeitos negativos por elas gerados.
Atentos aos progressos alcançados no âmbito da comunicação social, os sucessivos papas todos os anos têm publicado uma mensagem, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra na solenidade da Ascensão. E são já cinquenta e duas as mensagens publicadas anualmente. Com elas, os pontífices pretendem dar um contributo para que as grandes causas da humanidade encontrem eco nos meios de comunicação social. Objectivo muito nobre mas difícil de alcançar. Com efeito, os meios de comunicação social estão sujeitos a múltiplas tentativas de manipulação, por parte de poderosas organizações comandadas por interesses económicos, políticos e ideológicos. Mas os pontífices persistem continuadamente no mesmo propósito. Este ano o papa Francisco deteve-se a analisar a origem, a natureza, os efeitos e os antídotos das fake news.
O tema da autenticidade e da veracidade da informação já foi estudado na antiguidade clássica, tempo em que os actores e os poetas recorriam ao processo da mimese para incutir um cunho de autenticidade às comunicações por eles feitas em palco ou na escrita. Da mesma forma, nos nossos dias, muitos utilizadores dos meios de comunicação social e, nomeadamente, das redes sociais, continuam a recorrer a processos semelhantes com o intuito de levar os seus interlocutores a aceitar como verdadeiras informações distorcidas, erróneas ou manipuladas e, dessa forma, alcançar benefícios pessoais.
Acresce ainda que a difusão das «falsas notícias» está muito facilitada. Tanto porque usam discursos evasivos e subtis que dificultam o seu reconhecimento como porque as tecnologias da comunicação são muito velozes e não assumem a responsabilidade dos conteúdos transmitidos. Além disso, as redes sociais podem actuar em circuitos limitados, dificilmente controláveis, favorecidos pela insaciável e natural avidez de novas informações. Ora, essas e outras são circunstâncias facilitadoras da infindável difusão das fake news, que exploram as emoções, podem gerar intolerância, promover o ódio e conduzir à falsidade.
Na actualidade, as «notícias falsas» estão a tornar-se uma espécie de praga comunicacional, com efeitos muito alargados e devastadores. Será que existe um antídoto para as combater? Antes de mais, diria que para encontrar o antídoto é preciso conhecer os interesses que as justificam e os mecanismos comunicacionais a que recorrem. Só assim se poderá desmontar a «lógica da serpente» em que se fundamentam. Por outro lado, o combate das fake news terá de ser feito a longo prazo, por um eficaz processo educativo. Educação para a VERDADE, educação para PAZ e educação para a RESPONSABILIDADE. A libertação da falsidade alcança-se pelo discernimento da verdade, que brota das relações livres entre as pessoas e promove a comunhão interpessoal. Os jornalistas que, por deontologia profissional, estão obrigados a serem responsáveis no modo de agir, não se podem esquecer que no centro das notícias estão as pessoas. E lidar com a vida das pessoas exige exactidão das fontes e promoção do bem. É por isso que são convidados a promover um jornalismo de paz, ao serviço das pessoas, promotor da verdade, sem fingimentos.
Évora, 8.05.18
+José, Arcebispo de Évora