25 de Abril: «Saibamos descobrir o horizonte para o qual devemos caminhar», incentiva bispo de Viana do Castelo, sobre «processo inacabado e aberto para o futuro»

D. João Lavrador lembra que é preciso «reconhecer os antecedentes, o evento e o percurso até hoje», bem como os intervenientes, pessoas ou instituições

Viana do Castelo, 16 abr 2024 (Ecclesia) – O bispo de Viana do Castelo escreveu uma mensagem pelos 50 anos do 25 de abril de 1974, “acontecimento que exige de todos uma digna celebração”, e destaca a importância de conjugar “a liberdade com a verdade”.

“Tal como aconteceu com a herança do Iluminismo, pela fratura que provocou com a nossa identidade civilizacional e cultura, igualmente a herança do pós-25 de Abril de 1974, sem retirar toda sua riqueza e progresso, poderia ter ido mais longe se conjugasse a liberdade com a verdade. E estas com o Amor”, escreve D. João Lavrador, na mensagem enviada esta terça-feira, 16 de abril, à Agência ECCLESIA.

O responsável pela diocese católica do Alto-Minho assinala que “em todo o processo” do pós-25 de Abril de 1974 evoca-se a liberdade como “a grande conquista, associando-a à democracia”, e que quem viveu nos tempos que antecederam este acontecimento “reconhecem o valor existencial destas conquistas”, mas refere que “nenhum valor social ou cultural se poderá conjugar tão só por si”, a liberdade reconhecida “como um bem imprescindível para a dignidade humana e para o bem comum”, deve requerer a exigência da verdade.

O bispo de Viana do Castelo começa por assinalar que o acontecimento do 25 de Abril de 1974, que comemora 50 anos em 2024, “é de tal modo importante que exige de todos uma digna celebração”, e reconhecer os antecedentes, o próprio evento e o percurso até à atualidade, também é justo reconhecer os intervenientes que “provocaram”, que fizeram acontecer e orientaram os “grandes ideais de Abril de 1974”.

D. João Lavrador realça “o papel de tantos e tantos cristãos (católicos) e da Igreja”, a importância da Ação Católica, nomeadamente da JOC (Juventude Operária Católica) e o grupo de cristãos da Capela do Rato, em Lisboa, na mensagem que tem como citação bíblica ‘Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á’ (Jo. 8, 32).

O bispo católico lamenta que “nada se diz das manifestações dos cristãos no Verão” de 1975, mas, quem viveu essa época, “reconhece a importância da militância de tantos, milhares e milhares”, que de modo organizado, liderados por leigos, exprimiram a sua “vontade firme de edificarem uma sociedade em liberdade, em democracia, em verdadeira igualdade e fraternidade”, assente na justiça e na paz, “mas conjugando a liberdade com a verdade e com a Amor”.

Para quem participou nestas manifestações foi entusiasmante ver uma grande parte das dioceses portuguesas à volta dos seus bispos a exigir que os ideais do 25 de Abril não fossem adulterados ou mesmo destruídos”.

D. João Lavrador reconhece o quanto se fez no progresso, “no respeito pela liberdade individual, por oferecer melhores condições de vida, seja no domínio do ensino, da saúde ou da segurança social”, na sociedade portuguesa, nestes 50 anos, mas lamenta que “se tenha demolido os alicerces da civilização e da cultura”.

“Refiro os ataques à vida, como o aborto e a eutanásia, na destruição da família, confundindo relações e afetos com a instituição familiar, a imposição da ideologia de género contra a realidade criatural emergente da criação e da natureza humana, a tendência para não distinguir a pessoa humana dos outros seres da criação”, explica.

Mais do que um acontecimento do passado e estático, o 25 de Abril de 1974, porque é realizado por pessoas e para as pessoas, todas as pessoas; porque envolve e determina a vida de toda a sociedade, é um processo inacabado e sempre aberto para o futuro. Saibamos descobrir o horizonte para o qual devemos caminhar”.

Na informação enviada à Agência ECCLESIA, a Diocese Viana do Castelo assinala que vai promover a conversa ‘Depois de abril’, esta sexta-feira, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal, com quatro personalidades do Alto-Minho, “nascidas depois da revolução”.

Os bispos portugueses aprovaram uma Nota Pastoral na comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”, onde reconhecem “tudo quanto se conseguiu de positivo no Portugal democrático” e alertam para intenções que “continuam a reclamar nos dias de hoje”, na 209.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) que se realizou entre 8 e 11 de abril, em Fátima.

CB/OC

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