Viseu: «Presenças privadas no Museu» apresenta a vivência da fé «mais intimista» a peças contemporâneas

Fátima Eusébio destaca um oratório portátil com Santo António, «uma peça extremamente singular»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Viseu, 29 dez 2021 (Ecclesia) – A diretora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu apresenta o projeto ‘Presenças privadas no Museu’, com diversas peças que mostram “formas de viver a fé num contexto mais intimista”, associando-lhes arte contemporânea.

“As duas peças que temos aqui de privados nesta primeira mostra terão pertencido originalmente a um mosteiro e atualmente estão numa família em Coimbra. Esta é uma forma de viver a fé, através destas peças, num contexto mais intimista, privado, e é reveladora desta motivação das pessoas terem peças que davam este sentido de proximidade e de uma proteção especial porque tinham as peças nas suas casas”, explicou Fátima Eusébio, em declarações à Agência ECCLESIA.

O projeto ‘Presenças privadas no Museu’ foi inaugurado com duas peças de arte religiosa – um oratório e um crucifixo -, e uma pintura contemporânea, no dia 11 deste mês, no Tesouro da Catedral de Viseu – Museu de Arte Sacra.

“Sobretudo a mais pequenina, que é um Santo António, é uma peça extremamente singular. É um Santo António oratório portátil, totalmente diferente, e será do período dos descobrimentos”, salienta Fátima Eusébio.

A diretora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu destaca que a imagem do santo português “não está com a iconografia tradicional”, mas com as “mãos postas em oração”, e é um míni oratório que se desmonta, não sendo um trabalho de “um alto nível artístico” é “muito curioso, muito popular”, com um altar, o frontal a imitar os têxteis, uma cruz, castiçais, duas figuras em oração.

Segundo Fátima Eusébio, esta peça sugere um altar portátil “associado às viagens nos Descobrimentos”, para uma oração durante as viagens, e a policromia remete para “as relações entre Portugal e o contexto asiático, é um colorido muito à maneira da Índia”.

A segunda peça privada é um crucifixo que tem apenas a particularidade de na haste da cruz juntar à inscrição I.N.R.J. – Jesus, o Nazareno, o rei dos judeus – a inscrição Jesus, Maria José, “fazendo quase uma ligação entre a encarnação e a morte de Cristo, o que enriquece a peça”.

O Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu em paralelo com as peças privadas, “que vão mudando de dois em dois meses ou três em três meses”, vai também “expor uma peça de arte contemporânea de um artista de Viseu”, e, neste momento, apresentam um ‘Cristo crucificado’ do artista Rui Costa.

“Tem por objetivo colocar em confronto esta diferença de linguagens. Queremos que exista também uma pedagogia, uma abertura à presença da arte contemporânea e que nem sempre é de leitura mais difícil ou mais hermética e que é possível fazer essa leitura”, desenvolveu.

A Diocese de Viseu também recebe doações e no dia da inauguração do projeto ‘Presenças privadas no Museu’ exposto um “bonito calvário”, na sala ‘Testemunhar e dar a vida’, que era de uma família de Santa Comba Dão que só queria que fosse “exposta com dignidade, tinha uma grande carga afetiva”.

“Uma peça de elevado nível artístico, dos finais do século XVIII, inícios do século XIX, com São João, Nossa Senhora e o Cristo crucificado”, assinala a diretora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu.

No contexto da pandemia Covid-19 e dos seus efeitos, a responsável explica que “não é fácil” o trabalho do departamento porque “condiciona muito uma programação, cria muitas dúvidas”.

“Em termos de programação acabamos por não ser tão ousados e fazer uma programação mais reduzida e com algum receio. O contexto da pandemia teve influência bastante significativa a nível de visitantes, os grupos foi uma diminuição drástica, não vieram as escolas, esse público também é importante, consideramos a educação para o património muito importante, e, claramente, houve uma diminuição a nível de turistas”, desenvolveu.

Fátima Eusébio depois de um ano “bastante penalizador” para quem tem equipamentos museológicos abertos, espera que “2022 seja mais fácil trabalhar e possibilidade de recuperar”.

CB/OC

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