Vida Consagrada: Irmãzinhas de Jesus na Quinta da Fonte procuram dignidade para «quem não tem voz»

Religiosas inspiram-se na figura do Beato Carlos de Foucauld

Lisboa, 01 dez 20146 (Ecclesia) – Três religiosas das Irmãzinhas de Jesus partilham a sua vida na Quinta da Fonte, no bairro da Apelação, na periferia de Lisboa, onde prosseguem o carisma do beato Carlos de Foucauld, 100 anos depois da sua morte.

“O irmão Carlos é um guia, porque a sua vida foi uma procura constante: desde a adolescência, a juventude, a conversão e o sacerdócio aos 43 anos. Isto deve estimular para não nos instalarmos”, explica à Agência ECCLESIA a irmã Maria de Fátima de Jesus.

Nascido em Estrasburgo, em França, a 15 de setembro de 1858, Charles empreendeu em 1883 uma expedição no deserto de Marrocos que lhe valeu a medalha de ouro da Sociedade de Geografia; converteu-se ao catolicismo em 1886 e foi ordenado sacerdote em 1901 em Viviers, tendo decidido partir para Beni-Abbès, no deserto argelino, perto da fronteira com Marrocos.

Centrando os seus passos na vida escondida de Jesus em Nazaré, as Irmãzinhas procuram acompanhar a vida das famílias que habitam a Quinta da Fonte.

“Numa sociedade que cria tantos limites e exclusões, a nossa vocação realizada numa maneira muito pobre e limitada, é sempre aberta ao outro, ao diálogo e ao estabelecer de pontes”, traduz a religiosa, que lembra uma frase do Beato Carlos de Foucauld – «não podemos ser cães mudos».

De uma forma “simples”, as religiosas saem à rua e partilham a sua vida com quem passa, ajudando a criar dignidade e sentido de comunidade, num bairro onde as dificuldades se sentem em todas as gerações.

“Estamos felizes por viver aqui. Onde eles estão, tentamos estar. Eu penso que somos acolhidos. Muito mais que nós, são eles que nos recebem como somos. E eu sinto que há uma verdadeira fraternidade. As pessoas sentem que não estamos para fazer proselitismo mas amamo-las tal como são e isso não engana”, explica a irmã Mónica de Jesus.

A irmã Maria de Fátima sublinha que a ajuda não pode criar dependência e deve ser feita de “igual para igual”.

“É importante que cada um seja construtor do seu destino. É necessário e meritório um trabalho de assistência e intervenção social, mas a nossa intervenção deve ser feita de igual para igual”.

Num bairro conhecido por situações de violência e desacatos, as religiosas afirmam não ter medo de andar na rua, conhecendo quem chega e partilhando a vida em comunidade.

“Tenho mais receio de andar nas ruas de Lisboa do que entre estes prédios”, afirma a irmã Mónica de Jesus, natural de França, mas a residir em Portugal há largas décadas.

Nos altos prédios amarelos vivem “famílias de Nazaré” que lutam diariamente para trabalhar, ter esperança, procurar ter dignidade e voz.

“A falta de emprego é a maior das violências”, sugere a irmã Mónica, lamentando a falta de esperança que os jovens enfrentam diariamente.

Mas são muitos os sinais positivos que acontecem na Quinta da Fonte: “Estas pessoas são capazes de sorrir e dizer hoje «temos sol, aleluia». Elas partilham as suas alegrias e tristezas, mas também o concreto. Há pessoas que acompanham outra vizinha, partilham o pão que alguém não tem, as sementes para a horta, uma couve, trocamos o que temos. Isso acontece continuamente. É uma vida simples. Tal como acontecia em Nazaré”.

O programa ECCLESIA deste domingo, na Antena 1, vai centrar-se na espiritualidade de Carlos de Foucauld – sequestrado por um grupo de rebeldes e assassinado a 1 de dezembro de 1916 por um grupo de tuaregues senussi – e no trabalho das Irmãzinhas de Jesus.

LS

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