Vergonha e angústia

Joaquim Mexia Alves, diocese de Leiria-Fátima

Joaquim Mexia Alves

«Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.» Lc 22, 44

Veio ao meu coração esta passagem do Evangelho de Lucas e senti-a tão adequada ao que ontem foi dado a conhecer sobre os abusos na Igreja em Portugal.

Esta angústia que então sentiste, sentiste-a com certeza, Senhor, cada vez que uma criança foi abusada, foi violentada, foi destruída pelo pecado de alguns padres da Tua Igreja.

Não a posso sentir como a sentiste e sentes, Senhor, mas sinto também uma angústia terrível, uma tristeza profunda, uma vergonha enorme, pela dor causada àquelas crianças.

Como é possível, Senhor?

Que maldade tão presente, que vicio tão entranhado, que desprezo pela inocência, leva aqueles homens e tantos outros, a esta perversidade sem nome.

«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar.» Mc 9, 42

Levanto os meus olhos para Ti, Senhor, e suplico-te por aquelas crianças, algumas delas hoje homens e mulheres, para que encontrem no Teu amor o amor que lhes foi negado e terrivelmente enganado naqueles momentos.

Acolhe-os nos Teus braços, aperta-os junto ao Teu coração e faz-lhes sentir o Teu amor, o verdadeiro amor que agora, provavelmente, lhes é tão difícil perceber nas suas vidas marcadas por todo aquele horror.

E aos que cometeram tão horrorosos pecados, tão terríveis crimes, Senhor, que sintam sem medida as consequências dos seus actos, que recebam o justo castigo das suas acções, (quer na Igreja, quer na sociedade civil), que encontrem dentro de si o arrependimento verdadeiro para perceberem com toda a magnitude o horror daquilo que praticaram.

E à Tua Igreja, Senhor, (que somos todos nós baptizados que em Ti acreditamos e Te seguimos), dá-lhe forças e ânimo para continuar a anunciar o Teu amor, o Teu Reino, mas não deixando de, em todos os momentos, reconhecer as terríveis feridas abertas por alguns dos seus filhos transviados.

Joaquim Mexia Alves

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