Verão missionário: uma história de sucesso

Ano após ano, coincidindo com a chegada do Verão, centenas de jovens portugueses partem para países lusófonos, oferecendo o seu tempo de férias ao serviço de projectos de voluntariado missionário, que ajudam algumas das populações mais pobres do mundo. Este despertar da consciência missionário é um fenómeno muito relevante na vida da Igreja dos nosso dias, fruto de um processo gradual que tem gerado um novo dinamismo. Durante séculos, a “Propaganda Fidei” (hoje Congregação para a Evangelização dos Povos”) era o organismo onde se centralizava toda a responsabilidade missionária, vendo-se nos Institutos Religiosos os seus imediatos executores. Esta tendência contribuiu, em larga medida, para o enfraquecimento dos laços da Missão com as comunidades cristãs, com pouco espaço para a cooperação dos leigos. A “revolução” eclesiológica do II Concílio do Vaticano estimulou uma nova participação dos leigos na vida da Igreja, com repercussões óbvias na Missão. Assim, foi ultrapassada uma visão que limitava a cooperação à oração pelas Missões e ao gesto de partilha material, no Dia Mundial das Missões. João Paulo II, na sua encíclica “Redemptoris Missio” (1990), sobre a validade permanente do mandato missionário, defendia a necessidade de valorizar “as várias expressões do laicado, respeitando a sua índole e finalidade: associações do laicado missionário, organismos cristãos de voluntariado internacional, movimentos eclesiais, grupos e sodalícios de vário género, sejam aproveitados na missão ‘ad gentes’ e na colaboração com as Igrejas locais”. Os números actuais do voluntariado missionário, de facto, são incomparáveis aos que deram início a este movimento, na década de 80. As entidades que há mais anos estão empenhadas neste compromisso, no terreno, são os Leigos para o Desenvolvimento e os Jovens Sem Fronteiras. Os Institutos Missionários “ad gentes”, as Congregações Associadas e a Fundação Evangelização e Culturas, vendo o crescente entusiasmo de muitos leigos pelo trabalho missionário e as necessidades urgentes existentes, decidiram agrupar-se para promover e desenvolver o laicado missionário. Nessa linha foram instituídos os “Leigos Missionários Portugueses” com o objectivo de apoiar, formar e enviar todos os interessados em trabalhar em projectos de evangelização ou de desenvolvimento em locais carenciados. Os leigos missionários são todos aqueles que, em ligação com uma das entidades associadas a este projecto, queiram trabalhar, pelo menos durante um ano, em projectos de cooperação ou de evangelização com a Igreja Católica. No futuro, admite-se, há mais espaço para as experiências missionárias dos leigos sem uma mediação imediata dos Institutos Religiosos vocacionados para a Missão “ad gentes”. Longo caminho O Voluntariado Missionário em Portugal, desde o seu início em 1986 até à actualidade, já viu partir mais de duas mil pessoas, o que equivale a uma média de aproximadamente 110 voluntários por ano, segundo o último levantamento efectuado pela Fundação Evangelização e Culturas (FEC). As entidades do voluntariado missionário são hoje mais de 40, após anos de consolidação desta nova forma de colaboração dos leigos na Missão. As entidades são grupos universitários de acção social, movimentos ligados a congregações religiosas, grupos missionários diocesanos, paróquias, organizações não governamentais ligadas à Igreja Católica. O voluntariado missionário é assim uma realidade que já ganhou o seu espaço na vida da Igreja, apesar de não ser conhecida em todas as Dioceses. A maior parte dos Voluntários parte em missões de curta duração. Em projectos superiores a 11 meses, estiveram à volta de 20% dos voluntários e os restantes estiveram no terreno em missões entre 3 a 10 meses. Os leigos inserem-se em projectos de assistência, promoção social e evangelização. As áreas de trabalho são quase sempre as mesmas: a saúde, a educação e a evangelização, que é a parte principal. As motivações, essas, estão na vontade de ajudar o outro e na fé de cada um. Esta é uma opção de serviço em ligação com as Igrejas Locais, apoiando o trabalho que os missionários já realizam. Os missionários são levados pelo desejo de partir, ao encontro de outros povos, outras culturas, e de apoiar o Desenvolvimento de populações carentes a muitos níveis.

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