Francisco diz que é preciso «remar contra a maré», combatendo isolamento promovido pelas tecnologias digitais
Veneza, Itália, 28 abr 2024 (Ecclesia) – O Papa disse hoje, em Veneza, que os jovens devem ser “criadores de novidade” e de beleza, convidando a superar o isolamento promovido pelas tecnologias digitais.
“Não sejam profissionais do digital compulsivo, sejam criadores de novidade”, pediu a cerca de 1500 jovens de Veneza e das 15 dioceses da região italiana do Veneto, reunidos em frente à Basílica da Saúde.
Francisco, que se tornou esta manhã o primeiro Papa a participar na Bienal de Arte da cidade italiana, chegou ao local em barco, após ter visitado as reclusas da prisão feminina, na ilha de Giudecca, e os artistas que colaboraram no Pavilhão da Santa Sé.
Recebido num clima de festa, o pontífice usou a imagem da cidade de Veneza e dos seus canais, para deixar uma mensagem às novas gerações.
“Deus sabe que, para além de sermos belos, somos frágeis, e as duas coisas andam juntas: um pouco como Veneza, que é esplêndida e delicada ao mesmo tempo. É bela e é delicada”, observou.
A intervenção deixou aos jovens o desafio de serem “revolucionários”, criando uma “sinfonia de gratuidade num mundo que procura o útil”.
O Papa destacou a importância de “remar contra a maré”, com perseverança, como acontece tantas vezes nos canais venezianos, admitindo que “não é fácil”.
“Poderás dizer: ‘Mas todos à minha volta estão sozinhos com os seus telemóveis, agarrados às redes sociais e aos jogos de vídeo’. E tu, sem medo, vai contra a corrente: toma a vida nas tuas mãos, envolve-te; desliga a televisão e abre o Evangelho – é muito, isto – deixa o telemóvel e vai ao encontro das pessoas”, apelou.
“Tenham atenção quando o telemóvel impede de nos encontrarmos com outras pessoas”, acrescentou.
Francisco observou que muitos perderam a “admiração pela beleza” que os rodeia, pela natureza, desafiando os jovens a ser “criadores de beleza”.
Hoje vivemos de emoções rápidas, de sensações momentâneas, de instintos que duram momentos. Mas não se vai longe desta forma. Os campeões desportivos, assim como os artistas, os cientistas, mostram que as grandes realizações não podem ser alcançadas num momento, de uma só vez. E se isto é verdade para o desporto, a arte e a cultura, é-o ainda mais para o que mais conta na vida: a fé e o amor”.
O Papa convidou os participantes a reconhecerem a sua condição de “filhos prediletos de Deus” e a sentirem-se “preciosos e insubstituíveis”.
“Cada um de nós é belo, é bela, e tem um tesouro dentro de si”, afirmou.
Francisco recomendou que os jovens rezem, pedindo ajuda e agradecendo a Deus pela sua vida.
“Lembra-te que, para Deus, não és um perfil digital, mas um filho, que tens um Pai no céu e que, portanto, és um filho do Céu”, sustentou.
A intervenção destacou os momentos de falha e de dúvida, realçando que Deus está “sempre pronto” para levantar quem cai e que “só se pode olhar uma pessoa de cima para baixo para a ajudar a levantar-se”.
“Não vos isoleis, procurai os outros, fazei a experiência de Deus juntos, segui caminhos de grupo sem vos cansardes”, recomendou.
Após o encontro, o Papa atravessou o pontão que liga a Basílica da Saúde à Praça de São Marcos, onde celebra a Missa conclusiva desta viagem.
OC
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