Primeiro Papa a visitar a Bienal de Arte sublinha destaca necessidade de combater, em conjunto, racismo, desigualdades sociais e crise ecológica
Veneza, Itália, 28 abr 2024 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje, em Veneza, com os artistas que participaram no Pavilhão do Vaticano na 60ª Exposição Internacional de Arte, destacando a importância do seu trabalho para superar o racismo, as desigualdades sociais ou a crise ecológica.
“Daqui, gostaria de enviar a todos esta mensagem: o mundo precisa de artistas. É o que demonstra a multidão de pessoas de todas as idades que frequentam espaços e eventos artísticos”, declarou Francisco, primeiro pontífice a visitar a Bienal na cidade italiana.
Após ter saudado as reclusas da prisão feminina de Giudecca, Francisco dirigiu-se para a igreja da Madalena (Capela da prisão) onde foi recebido pelo prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação e comissário do Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Arte de Veneza, o cardeal português D. José Tolentino Mendonça.
O Papa desafiou os participantes a imaginar “cidades que ainda não existem no mapa, cidades onde nenhum ser humano é considerado um estranho”.
A intervenção destacou a importância da arte para combater “o racismo, a xenofobia, a desigualdade, o desequilíbrio ecológico e a aporofobia, esse neologismo terrível que significa “’fobia dos pobres’”.
Francisco disse sentir-se “em casa”, recordando que em junho de 2023 tinha promovido um encontro com artistas de todo o mundo, na Capela Sistina.
Para todos os efeitos, a arte tem o estatuto de cidade de refúgio, uma entidade que desobedece ao regime de violência e discriminação para criar formas de pertença humana capazes de reconhecer, incluir, proteger, abraçar todos. Todos, a começar pelos últimos”.
O Papa precisou que estas “cidades de refúgio” são uma instituição bíblica, destinada a “evitar o derramamento de sangue inocente e a moderar o desejo cego de vingança, a garantir a proteção dos direitos humanos e a procurar formas de reconciliação”.
“Seria importante que as diferentes práticas artísticas se constituíssem por toda a parte como uma espécie de rede de cidades-santuário, trabalhando em conjunto para libertar o mundo das antinomias sem sentido e vazias que procuram impor-se”, apelou.
Francisco convidou a superar a “rejeição do outro” e o egoísmo, que faz das pessoas “ilhas solitárias em vez de arquipélagos colaborativos”.
“Peço-vos, colegas artistas, que imaginem cidades que ainda não existem no mapa: cidades onde nenhum ser humano é considerado um estranho. É por isso que quando dizemos ‘estranhos em todo o lado’, estamos a propor ‘irmãos em todo o lado’”, acrescentou.
O tema do Pavilhão da Santa Sé, na Bienal de Veneza, é ‘With My Eyes’ (Com os meus olhos).
“A arte educa-nos para um olhar contemplativo”, observou Francisco, pedindo que os artistas “saibam distinguir claramente a arte do mercado”.
“É certo que o mercado promove e canoniza, mas há sempre o risco de vampirizar a criatividade, de roubar a inocência e, finalmente, de instruir friamente sobre o que fazer”; precisou.
A intervenção destacou ainda o simbolismo deste encontro decorrer numa prisão feminina.
“É verdade que ninguém tem o monopólio da dor humana. Mas há uma alegria e um sofrimento que se unem no feminino de uma forma única e que devemos escutar, porque têm algo de importante a ensinar-nos. Estou a pensar em artistas como Frida Khalo, Corita Kent ou Louise Bourgeois e muitas outras”, declarou o Papa.
Espero de todo o coração que a arte contemporânea possa abrir os nossos olhos, ajudando-nos a valorizar corretamente o contributo das mulheres, como coprotagonistas da aventura humana”.
O cardeal Tolentino Mendonça apresentou os artistas que participam na exposição, antes de Francisco deixar a ilha de Giudecca, em barco patrulha, para se dirigir à Basílica de Nossa Senhora da Saúde, onde se encontra com jovens de Veneza e das dioceses da região.
OC
O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé sublinhou, na sua saudação, que esta primeira visita de um Papa à Bienal de Arte é um “marco histórico”, manifestando o desejo de “inaugurar uma nova era nas relações da Igreja com o mundo das artes”. “A sua visita, Santo Padre, torna evidente a vontade de implementar um novo estilo, no qual as convergências plurais se tecem em liberdade e a parte do autêntico caminho que podemos fazer juntos é mais apreciada do que a afirmação obsessiva do poder”, declarou D. José Tolentino Mendonça. O cardeal português agradeceu a todos os que estiveram envolvidos no pavilhão da Santa Sé, num “esforço de equipa”, das reclusas aos mecenas, nomeando individualmente os curadores, artistas e equipa de produção. A participação da Santa Sé na Bienal de Veneza, até 24 de novembro, inclui workshops, instalações de arte, dança, cinema, performance e pintura. A exposição começa no exterior, com a fachada da igreja da Madalena e a obra que a cobre, da autoria de Maurizio Cattelan; no interior há imagens que se relacionam com a vida das reclusas e, na capela que já não tem culto, a artista brasileira Sónia Gomes apresenta as roupas destas mulheres, em tecidos coloridos. |
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