Vaticano: Papa telefonou a pároco italiano empenhado no combate à máfia

Francisco tinha prevista uma visita pastoral a esta região em Nápoles, que foi adiada devido à pandemia, em 2020

Cidade do Vaticano, 11 out 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco telefonou ao padre Maurizio Patriciello, pároco do município italiano de Caivano, na província de Nápoles, que vive com escolta pelo seu compromisso na luta contra a máfia na chamada ‘Terra do Fogo’, sul da Itália.

“O telefonema durou alguns minutos. Ele disse que conhecia a situação em que trabalhamos, os problemas que temos com a ‘Camorra’. Que estava próximo e orava por mim e também pediu orações”, disse o sacerdote ao portal de notícias do Vaticano.

A 12 de março, no dia do aniversário do padre Maurizio Patriciello, que vive sob escolta, uma bomba explodiu em frente à igreja de São Paulo Apóstolo, no Parque Verde de Caivano.

“Fiquei feliz porque o Papa sabia tudo sobre o assunto; E queria que eu soubesse que ele estava próximo, rezava por mim, e encorajava a continuar o que estou a fazer”, disse o padre que vive sob escolta por este trabalho contra a máfia.

O pároco do município italiano de Caivano, na província de Nápoles, está envolvido na luta contra a máfia na chamada ‘Terra do Fogo’, uma região afetada pela poluição entre as cidades de Nápoles e Caserta, que a ‘Camorra’ [organização criminosa italiana] “transformou numa lixeira a céu aberto, com a queima ilegal de detritos e produtos tóxicos, considerados crimes ambientais cometidos pela chamada ‘máfia do lixo’, contextualiza o ‘Vatican News’.

“A nossa atividade continua, estes são bairros problemáticos, que sempre digo que nasceram com o ‘pecado original’. Colocamos lá famílias pobres, muitas também honestas, que nos últimos anos foram embora e deixaram as suas casas para a Camorra, e, com o passar do tempo, se o Estado não faz sentir forte a sua mão, tudo se torna cada vez mais problemático”, explicou o padre Maurizio Patriciello.

O sacerdote italiano destacou também a proximidade do Papa Francisco, “nos últimos anos, na questão ambiental”, especialmente com publicação da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’, em 2015.

Francisco tinha agendada uma visita a Acerra, perto de Caivano, para falar com as pessoas da ‘Terra do Fogo’ sobre o cuidado da casa comum, pelo quinto aniversário da Encíclica ‘Laudato Si’, a 24 de maio de 2020, mas foi adiada por causa da pandemia Covid-19.

O padre Maurizio Patriciello recordou que o telefonema do Papa foi feito pela hora do almoço, no dia 7 de outubro, na sexta-feira, “era um número desconhecido”, e foi “realmente uma surpresa porque não deixou ninguém anunciá-lo”: “Sou Papa Francisco”.

No início deste ano, o Papa assinou a introdução do livro-entrevista ‘Passiamo all’altra riva’  (Passemos para a outra margem) do padre Benito Giorgetta com Luigi Bonaventura, um ex-mafioso agora colaborador da justiça italiana, destacando a necessidade de olhar para lá das falhas de cada um.

No dia 7 de junho de 2021, Francisco recebeu Noemi Staiano no Vaticano, criança que ficou gravemente ferida depois de ter sido atingida por uma bala perdida, durante um acerto de contas da Camorra numa praça de Nápoles, em 2019; uns meses antes, a 21 de março, o Papa condenou a ação de máfias que enriquecem com a corrupção, mesmo durante a pandemia, associando-se à jornada anual memória das vítimas das associações criminosas, na Itália.

A 22 de dezembro de 2020, o Papa aprovou o decreto que reconhece o martírio de Rosario Livatino, juiz siciliano assassinado pela Máfia em 1990.

Em 2018, Francisco visitou a Sicília, presentando homenagens ao padre Pino Puglisi, assassinado pela Máfia em 1993 e reconhecido como mártir pela Igreja Católica, e ao juiz Giovanni Falcone; e, neste ano, já tinha passado por uma região do litoral romano dominada pela Mafia, onde deixou uma mensagem contra a ilegalidade e a “omertà”, o código de silêncio que defende os criminosos das autoridades.

Em 2015, deslocou-se a Nápoles, condenando a ação da máfia e mostrando a sua preocupação com o desemprego; em junho de 2014, o Papa deslocou-se à Calábria para condenar a organização criminosa italiana ‘Ndrangheta’.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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