Vaticano: «A água um bem precioso para a paz», afirma o Papa

Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela apresenta diariamente curtas-metragens no Fórum Mundial da Água, em Dakar

Cidade do Vaticano, 21 mar 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou, numa mensagem para o IX Fórum Mundial da Água, que “o direito à água potável e ao saneamento está intimamente ligado ao direito à vida” e é “um bem precioso para a paz”.

A mensagem do Papa, que tem por título “Segurança da água para a paz e o desenvolvimento”, é assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, e foi publicada hoje Sala de Impresa da Santa Sé, no dia em que começa, em Dakar, IX Fórum Mundial da Água.

No documento, o Papa lembra que a água não pode ser considerada como um privado nem estar sujeito “às leis do mercado”.

“Gerir a água de forma sustentável e com instituições eficazes e solidárias não é, portanto, apenas um contributo para a paz; é também uma forma de reconhecer este dom da criação que nos foi confiado para que juntos possamos cuidar dela”, afirma o Papa.

Francisco afirma que a água, nomeadamente a água doce, é “largamente transfronteiriça” e, por isso, se “os países trabalhassem em conjunto mais estreitamente sobre a água em diferentes partes do mundo, seria um grande passo em frente para a paz”.

O Papa  refere que o “bom funcionamento dos mecanismos de cooperação em águas transfronteiriças é um elemento importante para a paz e a prevenção de conflitos armados” e lembra, a este respeito, “no rio Senegal, mas também no Níger, no Nilo e noutros grandes rios que atravessam vários países”

“Em todas estas situações, a água deve tornar-se um símbolo de acolhimento e bênção, um motivo de encontro e colaboração que aumentará a confiança mútua e a fraternidade”, acrescenta.

No documento, afirma-se que “o direito à água potável e ao saneamento está intimamente ligado ao direito à vida”, enraizado na “dignidade inalienável da pessoa humana” e “condição para o exercício de outros direitos humanos”.

O Papa lembra que “mais de 2 mil milhões de pessoas estão privadas de acesso a água potável e/ou saneamento”, alertando para “todas as consequências concretas que isto pode ter, em particular para os doentes nos centros de saúde, para as mulheres em trabalho de parto, para os prisioneiros, refugiados e pessoas deslocadas”.

Francisco dirige “um apelo a todos os líderes políticos e económicos, às várias administrações, àqueles que estão em posição de dirigir a investigação, o financiamento, a educação e a exploração dos recursos naturais e da água em particular, para servirem o bem comum com dignidade, determinação, integridade e num espírito de cooperação”.

“O Papa Francisco assegura-vos a sua oração que este Fórum Mundial da Água seja uma oportunidade de trabalhar em conjunto para a realização do direito à água potável e ao saneamento para cada ser humano, e para que contribua para fazer da água um verdadeiro símbolo de partilha, de diálogo construtivo e responsável em favor de uma paz duradoura, porque construída sobre a confiança”, conclui o documento.

O IX Fórum Mundial da Água decorre em Dakar até ao dia 26 de março e vai contar uma apresentação diária de curtas-metragens produzidas pelo CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, de Seia, que integra a delegação portuguesa.

Em março de 2020, a Santa Sé tinha lançado o documento ‘Aqua fons vitae’ (Água, fonte de vida), no qual desafia as paróquias de todo o mundo a abandonar o uso de garrafas de plástico e a investir em sistemas amigos do ambiente.

“Em todas as paróquias, mosteiros, escolas, cantinas, oratórios e centros de saúde, a Igreja deve garantir o acesso à água potável e ao saneamento com sistemas que sejam amigos do ambiente, eficientes e compatíveis com as necessidades específicas dos utilizadores”, pode ler-se.

Francisco tem alertado para a possibilidade de uma “guerra mundial” por causa dos recursos hídricos, defendendo que a água é um direito “vital” de cada pessoa.

“Pergunto-me se nesta terceira guerra aos bocados estaremos a caminho da grande guerra mundial pela água”, assinalou em 2017, num encontro dedicado ao ‘direito humano à água’, na Academia Pontifícia das Ciências (Santa Sé).

A encíclica ecológica ‘Laudato Si’ (2015) dedica um ponto específico à “questão da água”, no qual o Papa recorda que “a pobreza da água pública” se verifica especialmente na África, onde “grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura”.

“Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas”, alerta Francisco.

A encíclica manifestava a oposição da Igreja à “tendência para se privatizar” a gestão da água, como se esta fosse uma “mercadoria sujeita às leis do mercado”.

“Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”, escreve o Papa.

PR

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