Diretor do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior antevê anos de dificuldades para os recém-licenciados
Braga, 06 jun 2020 (Ecclesia) – O padre Eduardo Duque afirma que a sociedade, pós-pandemia, vai precisar refletir sobre a realidade social e económica dos jovens, afetados pela falta de emprego e com os planos de vida adiados.
“Ouvimos durante estes três meses que esta crise prejudicava os idosos e era preciso ter atenção com eles; sabemos hoje que terá grandes consequências para a geração mais nova. Será necessário pensar um novo contrato social entre gerações e interesses diferentes. Sabemos que os idosos, a sua grande preocupação é não apanhar o vírus; os jovens não apresentam problemas de saúde mas precisam de emprego”, refere o diretor do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior (SNPES) à Agência ECCLESIA.
O responsável antevê “um, dois, três anos” de dificuldades, em que os jovens “que saem da Universidade vão ter desafios para encontrar emprego”.
“É preciso alimentar esperança desde cedo nos jovens: estamos com eles, que haja uma ajuda e solidariedade, porque se se entra tarde no mundo do trabalho, não é fácil constituir família e o jovem vai prorrogando as suas esperanças. Como sociedade e comunidade devemos refletir sobre o desemprego jovem. Como se faz a transição entre a universidade e a entrada no mundo do trabalho”, indica.
O padre Eduardo Duque fala na importância da solidariedade e no prescindir de ter vários empregos para “que outros tenham também algum ganho”.
O SNPES procura oferecer, através da sua presença na Universidade, oferecer “programa apelativos para estudantes e professores”, que apresentem “a profundidade da pessoa”, através da reflexão de temas como “a verdade, a justiça, a beleza da vida, o outro”.
“Podemos perguntar que sociedade, esbatida, incolor, algo vazia, individualizada que nos trouxe aqui? A proposta é rebater isto e propor mais profundidade, uma sociedade que caminhe com o interior das pessoas e aí perceber o seu melhor”, reconhece.
O padre Eduardo Duque indica que a dimensão “económica e prática da vida”, sendo importante, “não pode ofuscar os valores da igualdade, da justiça ou da verdade de cada pessoa”, sendo por isso necessário, “ir ao fundo para trazer a verdade”, e convidando cada um a “encontrar sentido para a vida”.
Um momento alto do ano académico é a bênção de finalistas, ocasião cancelada por causa da pandemia do Covid-19.
“A bênção de finalistas é um momento em que a Universidade se conjuga com a Igreja de forma muito viva e nesta altura acompanhamos os que caminharam connosco ao longo do seu tempo académico e muitos outros só conhecemos agora. Para nós foi uma grande perda não ter este momento”, lamenta.
A arquidiocese de Braga está a organizar, de forma simbólica, uma Eucaristia, ao ar livre, onde estarão presentes os coordenadores da pastoral universitária, para que “o ano não termine em suspenso”.
“Foi um ano de aprendizagem, de dar as mãos, de dizer que precisamos uns dos outros, exatamente para tentar terminar o ano não em suspenso, mas para fechar em alegria, vamos ter um momento com o D. Jorge Ortiga, agradecendo a Deus este momento de dificuldade e pedir força para levar avante os novos desafios que temos pela frente”, afirma.
O entrevistado enaltece as “muitas iniciativas” da Igreja que procurou fazer-se presente junto dos jovens, durante o tempo de confinamento: “Soube de iniciativas muito bonitas, colegas nossos sacerdotes que mantiveram por telemóvel ou virtualmente, unidos aos jovens. Tivemos iniciativas extraordinárias: terço em rede, as quartas-feiras de silencio, temos também um momento de dois minutos de oração, tudo desencadeado por jovens”.
“Em cada diocese houve esta preocupação de que o confinamento não fosse o momento de separação dos universitários: a Igreja quis estar com eles, aproximou-se de muitos e não obstante não haver bênção de finalistas, conseguiu-se colmatar um vazio”, finaliza.
A conversa com o padre Eduardo Duque esteve em destaque o programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, este doming.
LS