«Uma vida com Karol» não quer gerar onda de sensacionalismo

O lançamento do livro “Uma vida com Karol”, fruto de uma conversa do Cardeal Stanislaw Dziwisz com o jornalista Gian Franco Svidercoschi, tem gerado um grande interesse por parte da opinião pública internacional. A obra, publicada pela editora Rizzoli, chega às livrarias da Itália esta quarta-feira, 24 de Janeiro, seguindo depois para toda a Europa. Apesar dos grandes títulos que estão a ser feitos, um pouco por todo o mundo, a partir de excertos do livro, Gian Franco Svidercoschi assegura que a obra quer “evitar qualquer tipo de sensacionalismo, para fazer emergir a dimensão mais profunda e pouco conhecida” de João Paulo II – como o gesto, no leito da morte, de saudar em último lugar o senhor Francisco, encarregado pela limpeza do apartamento pontifício. Em entrevista ao sítio Korazym.org, o co-autor deste livro, que recolhe as memórias do antigo secretário pessoal do Papa polaco, faz os seus próprios destaques e assinala o contributo que a obra poderá trazer para melhor avaliar o pontificado de Wojtyla. A oração, por exemplo, é um elemento constante: “O Papa era um enamorado de Deus, mas num estilo que não se reduzia a um puro misticismo, reflectindo-se em cada situação concreta. Perante os grandes desafios do pontificado, João Paulo II tinha o hábito de perguntar a si próprio e aos seus colaboradores como se teria comportado Jesus”. O livro, assinala, procura afastar simplificações como um Papa “anticomunista” ou “anticapitalista” para definir Karol Wojtyla. Pelas memórias do Cardeal Dziwisz – aqui, mas uma vez, a “apagar-se” perante a figura que acompanhou e serviu durante 40 anos – vê-se como João Paulo II conquistou um espaço na praça pública, rompendo o monopólio “da esquerda e de uma cultura laicista” sobre temas como a paz, a justiça e os direitos humanos. Dentro da Igreja, o destaque vai para a questão da desclericalização, com o espaço dado “aos carismas laicais e comunitários, como o demonstram as iniciativas com os jovens, as mulheres e os movimentos”. Gian Franco Svidercoschi não fica indiferente às revelações de alguns aspectos até agora desconhecidos ou pouco divulgados, feitas por D. Dziwisz. Fica-se a saber que João Paulo II estudou chinês, quanto mais não fosse para tentar manter contactos ou escrever uma mensagem. Significativa é também a ligação com D. Oscar Romero, assassinado enquanto celebrava a Eucaristia na sua Diocese de El Salvador, a 24 de Março de 1980. Antes da viagem a este país, em 1983, alguns Bispos da América Latina teriam pedido a João Paulo II que não rezasse junto da campa de D. Romero para evitar o risco de instrumentalizações, mas o Papa respondeu que iria prestar homenagem “a um Bispo atingido no coração do seu próprio ministério”. Em 2000, no grande Jubileu, quis que o Arcebispo salvadorenho fosse inscrito na lista de mártires do século XX como “grande testemunha do Evangelho”. Uma polémica que voltou à baila, nos tempos mais recentes, foi o encontro com Pinochet, no Chile. “O Cardeal Dziwisz conta que, depois de ter ido, constrangido, ao balcão do palácio presidencial, o Papa sugeriu ao ditador chileno, em audiência privada, que entregasse o poder às autoridades civis”.

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