Uma lição para aprender a ler o mundo

Homilia de D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de Setembro «Celebramos a Senhora de Fátima, a Senhora mais branca que o sol, sob o título de “Maria, Mãe do Amor Formoso”. É o Amor Formoso, enquanto Belo, Bom, Verdadeiro e Feliz… que todos nós procuramos. É este Amor que, na linguagem de Santo Agostinho, nos faz sonhar, buscar, correr, levando o coração a não descansar sem O encontrar… Não é este Amor, nos mais diversos nomes e acepções, a fonte da paz, da serenidade e da alegria… no fundo, a fonte da felicidade?… Não é a sua ausência que nos faz correr e que nos toma insatisfeitos, vazios e infelizes?!… Maria é a Sua Mãe, como lhe é atribuído na 1ª leitura, na interpretação da Igreja. Ela pode e quer guiar-nos até Ele, pois nela está “toda a graça do caminho e da verdade”. Ela pode e quer apresentar-nos a Ele, pois que convida a aproximarem-se dela todos os que desejam saciar-se dos seus frutos. É para nos apresentar ao Filho que nos convida para Ela. Quais as exigências deste Amor Formoso e que nos pede Ele como condições?… Vamos à Palavra de Deus. A 2ª leitura diz-nos que este Amor é, sobretudo, entrega e comunhão. O amor não é outra coisa – procura o outro porque não pode estar só. Encontrando o outro, une-se a ele, pois só quer existir para o outro e pelo outro. A referência para esta tese é a relação de amor entre Cristo e a Igreja. Esta referência é a plenitude de toda uma História de amor e de Salvação que nos é relatada no Antigo Testamento. Descreve-nos uma procura e um chamamento permanente… Deus procura e chama o Seu povo. A ele Se entrega por amor, para que o mesmo povo encontre a felicidade e a paz. A recusa deste chamamento e a fuga a esta procura leva o povo ao exílio, à escravidão, à derrota, à solidão… Precisamente porque não quer o Amor, foge do Amor; adultera-se em idolatrias prostitutas; não encontra a satisfação ou a paz… Porém, o Povo vai experimentando que só o amor enche o coração porque, ainda com Santo Agostinho, Deus criou-nos assim e quer-nos assim, à Sua imagem e com a Sua marca de infinito no coração. Este chamamento ao amor e à comunhão atinge o auge e a plenitude na Eucaristia. Maria, a Mãe do Amor Formoso é, também, a Mãe da Eucaristia, pois, ali, realiza-se o Amor na plenitude de Comunhão, de entrega, de unidade, assumindo-nos n´ Ele para termos vida em abundância. Nasce daqui a grande riqueza do Matrimónio, comparado, enquanto mistério grande, ao Grande Mistério da união de Cristo com a Igreja, que tem a referência máxima na Eucaristia, pois Jesus faz a Igreja e a Igreja, no dizer de João Paulo II, faz a Eucaristia. O matrimónio, na união entre homem e mulher, é grande mistério porque o homem é chamado a sair de si mesmo, da sua própria casa, para, no amor, consumar a comunhão com a sua esposa, sendo uma só carne, na unidade da entrega e na riqueza da mútua doação. É este um belo exemplo do amor que procura permanentemente o outro para viver com o outro e construir com ele a comunhão: um amor ao jeito de Deus que procura a relação com o Seu povo; um amor ao jeito de Deus feito Homem que procura a relação com a Igreja, com cada um de nós. Relação consumada e levada ao máximo na entrega de Deus Filho à Igreja no Mistério Pascal, vivido e celebrado na Eucaristia. Quem entende e vive assim o amor, não o vive apenas em palavras nem o quer finito ou sujeito a condições de interesse ou de conveniência… Vive-o, procurando entrar nos movimentos e dinamismos do amor… Movimentos e dinamismos que, no dizer do Papa Bento XVI, convidam ao ágape, à realização da felicidade na suma comunhão. Este amor não usa o outro; não subalterniza o outro; não esquece o outro… Ao contrário, tem o outro sempre em primeiro lugar; escuta e adivinha o coração do outro; vive de modo a que o outro viva e seja feliz; ama o outro como a si mesmo; sabe que não é feliz se o outro não é feliz também. É assim o nosso amor?… É assim que amamos os irmãos?… É assim que os casais entendem o amor no casamento e na família?… Que bela lição nos é dada na 1ª leitura que ouvimos há pouco!… Como o mundo teria a ganhar com a aprendizagem desta lição e das suas consequências!… Como tudo seria diferente, se o mundo lesse e entendesse a história à luz do Amor Formoso, ensinada por Sua Mãe… Não se preocupava tanto com as seringas e a sua troca ou as salas onde se droga… mas com a vida e saúde das pessoas e com as soluções para os problemas concretos… Não se preocupava tanto com a morte dos terroristas, continuando a obra começada, imortalizando os marcos negros da história, mas preocupava-se mais com as vítimas de milhões e milhões que sofrem as consequências… Não se preocupava tanto com os preservativos e a segurança do sexo mas com a verdade, a responsabilidade e a formação da consciência para assumir a beleza do amor e da vida… Não se preocupava tanto por facilitar os divórcios, mas apostava mais na defesa do casal e da família… Se o mundo lesse e entendesse a história, a comunicação social não preenchia as suas páginas e as suas horas com os problemas existentes, mas procurava encontrar, ver e mostrar ao mundo as soluções e as pessoas que as procuram e que vivem, amando e entregando-se por elas… Para onde caminha o nosso mundo, o mundo que Deus ama, o mundo ao qual Deus Se entrega por amor, para o salvar? Torna-se tão urgente viver o amor e inventar formas novas de amar que Jesus faz deste estilo de vida o Seu mandamento, o único mandamento, como nos diz o Evangelho. É este o Amor Formoso. É este o Amor que nos dá Maria, tornando-se Mãe de Jesus, o Filho de Deus. De uma forma tão simples, porque clara, porque experimentada e porque a única forma de seguir Jesus Cristo, Ele diz-nos hoje: “Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no Meu amor”. Nada mais simples… Não porque seja fácil amar assim, mas porque é condição para sermos cristãos, para sermos filhos de Deus, para nos assumirmos nos nossos compromissos sacramentais: baptismo, matrimónio, ordem… Tudo o mais que seja diferente – toda a espécie de adultério, prostituição ou idolatria – é desvio e fuga da alegria completa que só o amor nos dá. O mundo precisa de alegria; o mundo precisa de amor; o mundo precisa de paz; o mundo precisa de fidelidade ao Amor Formoso que nos vem de Maria e é, mesmo, a fonte da alegria, do amor, da paz e da felicidade… Sem esta fidelidade aos valores do Amor Formoso; sem este acolhimento do convite do Livro de Ben-Sirá, personificado em Maria, a sociedade vive insegura, a fugir de si própria, pois ela própria provoca e gera o terror, a violência, a corrupção, a morte, toda a espécie de adultérios e de divórcios. Peçamos à Mãe do Amor Formoso que nos entusiasme pela beleza do Amor e que nos dê o sentido da Sua alegria! ASSIM SEJA». D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu.

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