Ucrânia: 12 meses de mensagens do Papa, pelo fim de uma guerra que o fez chorar (c/vídeo)

Francisco tem repetido apelos em favor do «martirizado» povo ucraniano, que consagrou a Nossa Senhora de Fátima

Cidade do Vaticano, 24 fev 2023 (Ecclesia) – O Vaticano recordou hoje, primeiro aniversário da guerra na Ucrânia, as dezenas de intervenções do Papa em favor da paz, nestes 12 meses, que incluíram uma celebração de consagração ligada a Fátima.

“(Francisco) pediu sempre que não se esqueça o povo ucraniano, martirizado por causa de um conflito ‘absurdo e cruel’, que ninguém se habitue à barbárie das armas”, referem os serviços de informação da Santa Sé.

A publicação especial começa por evocar o dia 24 de fevereiro de 2022, início da invasão russa, recebida pelo Papa com “grande dor no coração”.

Perante a invasão e reconhecimento das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, Francisco fez uma inédita visita ao embaixador da Rússia junto da Santa Sé e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, manifestou em diversas ocasiões a disponibilidade da diplomacia católica para mediar negociações.

A 2 de março, a Igreja viveu um dia de oração e de jejum, pela paz, recordando também os refugiados e deslocados do conflito.

Dois cardeais, Konrad Krajewski e Michael Czerny, visitaram a Ucrânia em missões de solidariedade, levando ajuda humanitária e a proximidade espiritual do Papa às populações; o secretário do Vaticano para as relações com os Estados, D. Paul Richard Gallagher, esteve em Vorzel, Irpin e Bucha, rezando diante das valas comuns.

Entre as iniciativas levadas a cabo nos primeiros 100 dias de guerra destacaram-se a videochamada entre o Papa e o patriarca ortodoxo de Moscovo, Cirilo, e a celebração que, a 25 de março, ligou o Vaticano ao Santuário de Fátima, onde esteve um enviado pessoal de Francisco, D. Konrad Krajewski, atual prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade (Santa Sé).

O Papa consagrou a Ucrânia e a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, perante a “ameaça nuclear”.

“O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria”, referia a oração proferida por Francisco, em união a todos os bispos e padres dos cinco continentes, convidados a participar neste ato solene.

Em Fátima, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e bispo de Leiria-Fátima, D José Ornelas, introduziu a oração na Capelinha das Aparições.

“Unidos ao povo ucraniano que nestes dias recebe a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, e nesta hora sombria da história do mundo, deixamo-nos atrair pela luz que irradia do seu Coração Imaculado, e rezamos para que escute a nossa oração e nos alcance do Coração misericordioso do nosso Deus o dom da paz e da concórdia entre os povos”, declarou.

Hoje, no Rosário das 12h00, na Capelinha das Aparições, os peregrinos são convidados a rezar pela intenção específica da paz na Ucrânia.

A 6 de abril de 2022, numa das imagens que marcou os últimos meses, o Papa mostrou uma bandeira da Ucrânia, vinda de Bucha, no Auditório Paulo VI, junto de um grupo de crianças refugiadas.

Foto: Vatican Media

O Vaticano realça que, no último ano, Francisco manifestou várias vezes o “desejo de se deslocar à Ucrânia”, viagem que tem condicionado sempre à possibilidade de conversações com Moscovo, em favor da paz.

As celebrações semanais do ângelus e da audiência geral têm contado, sistematicamente, com mensagens do Papa, particularmente atento aos momentos de maior tensão, em que a ameaça nuclear parecia mais próxima.

A 2 de outubro de 2022, pela primeira vez no pontificado, Francisco deixa de lado a tradicional catequese do ângelus e dirige-se diretamente aos presidentes da Ucrânia e da Rússia.

“O curso da guerra na Ucrânia tornou-se de tal forma grave, devastador e ameaçador que suscita grandes preocupações”, justificou.

Duas semanas depois, Francisco apelou ao fim da “loucura da guerra”, num texto inédito divulgado pelo Vaticano em que lamenta o “fracasso” da política, em relação ao conflito na Ucrânia.

O texto integra o livro ‘Peço-te em nome de Deus. Dez orações por um futuro de esperança’, editado por Hernan Reyes Alcaide.

O Papa assume que o mundo vive a III Guerra Mundial, depois dos conflitos do século XX, repetindo a mensagem de que a diplomacia da Santa Sé está a “procurar soluções” para a Ucrânia.

“Num século, três guerras mundiais! A de 1914-1918, a de 1939-1945, e esta! Esta é uma guerra mundial, porque é verdade que quando os impérios, seja de um lado, seja do outro, se enfraquecem, precisam de fazer uma guerra para se sentirem fortes e também para vender armas”, acusou, a 6 de novembro, em declarações aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, desde o Barém.

A 24 de novembro, nos nove meses da guerra, Francisco assina uma carta para o povo ucraniano, manifestando a sua solidariedade a um “povo nobre e mártir”, vítima da “absurda loucura da guerra”.

Foto: Vatican Media

A 8 de dezembro de 2022, durante uma homenagem à Imaculada Conceição, no centro de Roma, o Papa emocionou-se e chorou, ao recordar as vítimas da guerra na Ucrânia.

“Virgem Imaculada, hoje eu gostaria de trazer-te a ação de graças do povo ucraniano pela paz que há muito tempo pedimos ao Senhor”, disse.

Na sua mensagem ‘Urbi et Orbi’ do Natal de 2022, o Papa condenou os ventos “gélidos” de guerra que ameaçam a humanidade, evocando particularmente a Ucrânia e o impacto deste conflito nas populações mais pobres do mundo.

“Que o nosso olhar se encha com os rostos dos irmãos e irmãs ucranianos que vivem este Natal na escuridão, ao frio ou longe das suas casas, devido à destruição causada por dez meses de guerra”, indicou, desde a varanda da Basílica de São Pedro.

A preocupação seria reforçada num dos discursos inaugurais de 2023, junto do corpo diplomático acreditado na Santa Sé, alertando para a III Guerra Mundial em curso, o “conflito sem sentido” na Ucrânia e a ameaça nuclear.

A 5 de fevereiro, após a sua quinta viagem a África, Francisco alertou para o perigo de “autodestruição” do mundo, com a multiplicação das guerras, reafirmando a disponibilidade para visitar Kiev e Moscovo.

“Temos de parar a tempo, porque uma bomba leva a outra maior e a outra maior ainda; nessa escalada não se sabe onde vai parar”, disse aos jornalistas que o acompanharam no voo de regresso a Roma.

Na última quarta-feira, durante a audiência geral, o Papa  Papa assinalou hoje o primeiro aniversário da guerra “absurda e cruel” na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro de 2022, após a invasão russa, apelando a negociações de paz e a um cessar-fogo.

Foto: Lusa/EPA

“Apelo a quantos têm autoridade sobre as nações, para que se empenhem concretamente pelo fim do conflito e que se chegue a um cessar-fogo, dando início a negociações de paz. Aquela que é construída sobre ruínas nunca será uma verdadeira vitória”, disse, no final da audiência pública semanal, que decorreu no Auditório Paulo VI.

Perante milhares de peregrinos de vários países, incluindo Portugal, Francisco recordou “um ano da invasão da Ucrânia, um ano do início desta guerra absurda e cruel, um triste aniversário”.

“Poderá o Senhor perdoar tantos crimes e tanta violência? Ele é Deus da Paz. Permaneçamos próximos do martirizado povo ucraniano, que continua a sofrer e perguntemo-nos: foi feito tudo o que era possível para travar a guerra?”, perguntou.

OC

Além do elenco de intervenções do Papa nos últimos 12 meses, o Vaticano assinala o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia com um editorial sobre a “a agressão à Ucrânia perpetrada pela Federação Russa”.

“Mais de 17 milhões de pessoas no país atacado precisam de assistência humanitária, 8 milhões são refugiados no exterior e 6 milhões são deslocados internamente. Há mais de 20 mil vítimas civis e cerca de 100 mil militares em ambas as frentes”, indica o texto, publicado pelo portal ‘Vatican Media’.

A nota editorial critica uma “carnificina sem sentido no coração da Europa cristã, onde soldados que partilham o mesmo batismo estão a lutar entre si, um massacre que está a levar a humanidade, com passos cada vez mais rápidos, à autodestruição”.

O Vaticano alerta para a “aceleração da corrida armamentista e da retórica militarista do pensamento único, que estigmatiza qualquer dúvida sobre a escalada bélica”.

 

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