Sudão do Sul: Presidente manifesta disponibilidade para retomar as negociações de paz com grupos de oposição

Salva Kirr saúda peregrinação ecuménica que leva ao país africano o Papa Francisco, o primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia

Foto: Lusa/EPA

Juba, 03 fev 2023 (Ecclesia) – O presidente sul-sudanês Salva Kirr anunciou hoje a disponibilidade para retomar as negociações de paz com grupos de oposição do Sudão do Sul que não assinaram, em 2020, a Declaração de Roma.

“Tenho consciência das grandes expectativas relativamente à implementação destes acordos”, assumiu, apontando à necessidade de “eleições credíveis e transparentes” como objetivo último deste processo, falando perante o Papa Francisco, acompanhado pelo primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia, Justin Welby e Iain Greenshields, numa peregrinação ecuménica pela paz.

O governo do Sudão do Sul e a Aliança dos Movimentos de Oposição (Ssoma) assinaram em janeiro de 2020 um compromisso conjunto, que visava o fim das hostilidades no país africano, com a mediação da comunidade católica de Santo Egídio, sediada na capital italiana.

O presidente da República sul-sudanesa, Salva Kiir, deixou votos de que esta “histórica visita” deixe marcas na “consciência” da população, referindo que após a viagem ao Vaticano, em 2019, houve um trabalho conjunto para “revitalizar os acordos de paz” assinados um ano antes.

Em 2022, o governo e os líderes da oposição do Sudão do Sul assinaram um novo acordo que regulamenta a disposição militar do acordo de paz celebrado em 2018.

O arcebispo Justin Welby, primaz da Igreja Anglicana, falou aos responsáveis políticos, representantes da sociedade civil e líderes religiosos presentes no Palácio Presidencial de Juba, alertando para a “devastação da guerra” e o sofrimento da população.

“Viemos para encorajar a Igreja, para lembrar o seu notável trabalho histórico na construção da paz e união das pessoas. Viemos para ouvir os jovens e falar aos líderes sobre as suas esperanças de paz e de oportunidades. Viemos para homenagear as mulheres que passaram por tão terríveis sofrimentos e, ainda assim, têm sido sinal da vida ressuscitada”, referiu o arcebispo da Cantuária, que acompanha o Papa Francisco no mais jovem país africano, até domingo.

O líder anglicano evocou o encontro com responsáveis políticos e religiosos do Sudão do Sul no Vaticano, em 2019 – marcado pelo gesto de Francisco que, no final do seu discurso de encerramento do retiro espiritual, se inclinou para beijar os pés dos líderes sul-sudaneses, reunidos para a iniciativa de paz.

“Vimos ao vosso encontro desta maneira, outra vez: de joelhos, para lavar os pés, ouvir, servir e rezar convosco”, declarou o arcebispo da Cantuária.

Justin Welby lamentou que seja fácil “esquecer” a crise sul-sudanesa, alertando para o “cansaço” que se começa a sentir na população, pela falta de avanço no caminho da paz.

A viagem, que deveria ter acontecido em julho de 2022 e foi adiada devido a problemas de saúde de Francisco, acontece após uma série de gestos comuns entre o Papa, o primaz anglicano e o moderador da Igreja da Escócia, incluindo uma mensagem conjunta, em 2021, pelo 10.º aniversário de independência do Sudão do Sul, mergulhado numa crise social e política

“Infelizmente, o vosso povo continua a viver com medo e incerteza, sem confiança de que o seu país possa realmente oferecer a ‘justiça, liberdade e prosperidade’ celebrada no hino nacional”, referia o texto.

O pastor Iain Greenshilds, novo moderador da Igreja da Escócia (Presbiteriana), desejou que “as Igrejas e as pessoas trabalhem em conjunto e deem testemunho juntas, por um futuro melhor para o povo do Sudão do Sul e para o mundo inteiro”.

“Precisamos de líderes que se preocupem com os valores pelos quais os nossos países vivem, que se preocupem com as condições em que as pessoas vivem e que ponham em prática a sua fé, no trabalho junto dos mais vulneráveis e marginalizados”, declarou.

Iain Greenshilds dirigiu-se ao presidente e vice-presidentes do Sudão do Sul, com quem os responsáveis cristãos estiveram reunidos em privado, no Palácio Presidencial de Juba.

“Que todos os líderes políticos, cívicos e internacionais se unam na busca da promessa holística de Deus de vida em plenitude, para todo o povo de Deus. E que as bênçãos e a paz de Deus estejam com o resiliente povo do Sudão do Sul”, concluiu.

OC

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