Sociedade: O desperdício depois do dia de Natal

Henrique Pinto explica movimento que quer ilegalizar a pobreza

Lisboa, 26 dez 2014 (Ecclesia) – O mentor do projeto ‘Impossible – Passionate Happenings’, que pretende legislar a ilegalidade da pobreza, explicou este movimento e comentou o desperdício depois do Natal desde a alimentação, roupa, e brinquedos que fazem falta a quem não tem nada.

“Eu creio que muitas vezes aquilo que temos no pós-Natal, que sobra em nossa casa seja em comida, presentes, em coisas que muitas vezes se arrumam e têm a validade quase de minutos e não é necessário deve-se ao facto de nos termos habituado a viver no excesso”, analisa Henrique Pinto.

À Agência ECCLESIA, o ex-coordenador da Associação CAIS considera que quando se vive no excesso aquilo que existe em casa “faria tremendo sentido e seria direito de pessoas” que, eventualmente, “na noite pós-Natal não têm nada e vivem em casas despidas”.

O responsável recorda que na América Latina, “há uns anos”, dizia-se que o que uns têm em excesso é “propriedade de quem nada tem”.

“Creio que devemos cada vez mais perguntar o que é que a vida exige como importante, como necessário mas continuamos convencidos que é preciso ter muito para sermos felizes”, observou assinalando o que a experiência revela, sobre sobras que vão para o lixo porque a “comida também se deteriora”, roupa que “se encosta” ou presentes que “não servem necessidades” das pessoas, desde os “mais pequenos aos adultos”.

Mesmo com a análise de desperdício por um lado e carência por outro, Henrique Pinto destaca que louva a existência do Natal porque “estimula a capacidade de amar, de ser solidário, altruísta” e de se exercer o “afeto”, ser-se “pacificador e pacíficos” num mundo que “não seria certamente este” sem esta data.

Mas, para o entrevistado, há algo a aprender em cada Natal que é “viver com o necessário” e deixar que aquilo que seria excessivo “chegar a casas que não têm esses bens e serviços”.

Para Henrique Pinto, a imagem de simplicidade do presépio pode ser uma pedagogia para a vida onde é preciso, “como nunca, investir” na família.

“Pelas crianças mudaremos o mundo mas já não acredito muito nesta geração de adultos porque foi construída e constituída pelo paradigma daquilo que chamo idolatria do dinheiro”, disse o mentor da ‘Impossible – Passionate Happenings’.

Segundo o entrevistado, o mundo precisa de fazer uma “aposta radical” numa família que educa crianças que vão faze a “transformação através do paradigma da dignidade humana”, numa ética de “cooperação inclusiva” no agir e pensar quotidiano.

Sobre o projeto ‘Impossible – Passionate Happenings’, que pretende que a pobreza seja reconhecida como ilegal revelou que têm “ações no terreno” e querem criar “núcleos de reflexão, mobilização” para que a ideia de criminalização da pobreza provoque e surpreenda as pessoas.

Nesse sentido, revela que gostava de ver “ações concertadas” como acontece com surtos e doenças que ameaçam e causam mortes mas “muito mais mortífera” que qualquer doença “é a fome” que “mata diariamente crianças, idosos e pessoas em idade ativa” e não existe “um plano nacional, europeu, mundial”.

Depois pretendem fazer “eventuais petições/referendos”, conversar com os partidos representados no Parlamento, para que a ideia possa “ser trabalhada, amadurecida” e conseguir que o parlamento em Portugal reconheça que a “pobreza viola” e inscreva na Constituição que “deve ser ilegal”.

“Estamos convencidos que só chegaremos lá através de políticas sociais, políticas de acesso a direitos e deveres que passam pelo direito ao trabalho”, alertou.

HM/CB

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