Semana Santa/Covid-19: Braga vive celebrações com outro silêncio, em transmissões online onde a vida é protagonista

Cónego José Paulo Abreu diz que «intensidade enorme» das vivências tradicionais é um desafio à transformação pessoal

Braga, 29 mar 2021 (Ecclesia) – O cónego José Paulo Abreu, deão do Cabido da Sé de Braga, disse à Agência ECCLESIA que a Semana Santa vai ser vivida com outro silêncio e intensidade, no contexto da pandemia, mesmo sem as tradicionais procissões.

“Em nada disto podemos ser meros espectadores, temos de ser atores, porque senão estamos fora da vida”, porque a Semana Santa implica todos, “na primeira pessoa”, indica o responsável.

A organização da Semana Santa em Braga vai recorrer a transmissões online para recordar as procissões que evocam os momentos da prisão, julgamento e morte de Jesus Cristo, face às limitações impostas pela pandemia – impedindo a sua realização nas ruas da cidade, pelo segundo ano consecutivo.

Para o cónego José Paulo Abreu, todos os quadros alegóricos e indumentárias que tradicionalmente marcam esta semana na cidade minhota querem apontar para um “itinerário de vida”.

“A Semana Santa é uma experiência marcante para muita gente, de uma intensidade enorme. É a vida que está ali: Domingo de Ramos, com foguetes, triunfantes; depois vem uma bordoada qualquer, uma doença, uma radiografia que saiu errada para os nossos cálculos, uma TAC que não deu certo, epidemias, as ameaças que o mundo tem”, precisa.

O responsável católico sublinha que as pessoas são chamadas a fazer uma “caminhada espiritual”, a partir da Bíblia e da sua própria experiência pessoal.

“Vê-se muita gente com lágrimas nos olhos, marcadas pelo sofrimento, pela dor, pela privação, pela indigência, pelos lutos”, recorda.

Nestas cerimónias, o silêncio grita. Autenticamente. Passamos pelas ruas e o silêncio é absolutamente estonteante, milhares e milhares de pessoas”.

A Semana Santa em Braga, caraterizada pelas suas grandes procissões noturnas que envolvem dezenas de figurantes, é para o entrevistado uma manifestação da “Bíblia pura, acontecimento interiorizado e exteriorizado”.

“Queremos que tenha conteúdo, que não seja mero folclores. As coisas, para terem sentido, têm de ter substância e procuramos carregar de densidade cada um desses momentos”, realça.

A celebração centra-se na passagem “da morte para a vida”, com a ressurreição de Jesus.

“Tudo o que era ameaça ao homem foi superado, foi vencido, e em Cristo há uma vitória global do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte”, afirma o cónego José Paulo Abreu.

Num momento de crise sanitária, social e económica, o sacerdote fala da necessidade de reinventar o gesto do lava-pés, habitualmente realizado na Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa).

“Deus nos livre se a sociedade perder este caráter de serviço, oblativo, esta generosidade imensa. Está aí a pandemia para o mostrar”, declarou.

Precisamos de pôr a toalha à cintura, encontrar esta energia altruísta, entre todos, para conseguirmos resolver tantas problemáticas sociais”.

A programação digital começou por oferecer uma visita guiada ao Bom Jesus de Braga e segue, ao longo dos próximos dias, com as tradicionais procissões: 31 de março, 21h30, Procissão da “burrinha”; 1 de abril, 21h30, Procissão do ‘Ecce Homo’; 2 de abril, 21h30, Procissão do Enterro do Senhor.

Presencialmente, as celebrações decorrem na Catedral de Braga, seguindo as normas da Conferência Episcopal e  das autoridades de saúde.

O cónego José Paulo Abreu sublinha que esta semana leva à festa da Páscoa, celebrando as “boas notícias”, a esperança que vem da ressurreição de Jesus.

“Nos dias que correm, esta nota de esperança vai reforçada”, assinala.

O sacerdote é o entrevistado do programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, entre segunda e sexta-feira (22h45) da Semana Santa.

OC

https://www.facebook.com/arquidiocese.braga/videos/2761105320885936

 

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