Cardeal D. José Tolentino Mendonça diz que as imagens de uma vala comum são um «terramoto» nos dias de hoje, rejeita discursos apocalíticos ou catastrofistas e aponta para a transformação que o isolamento social deve provocar
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Cidade do Vaticano, 11 abr 2020 (Ecclesia) – O cardeal D. José Tolentino Mendonça considera o Sábado Santo como o “dia mais longo”, um “lugar de trânsito” marcado por “grande silêncio do vazio” e pela piedade, com “tantas semelhanças” aos dias da atual pandemia e isolamento social.
“Este Sábado Santo da pandemia tem de ser um tempo da humanidade, que experimentamos com a ‘Pietà’, com a Senhora da Piedade. Este é um tempo para praticar a piedade”, afirmou o arcebispo português.
No caminho da Semana Santa, D. José Tolentino Mendonça disse que os dias de pandemia que a humanidade vive tem “tantas semelhanças com aquilo que é o sentido de um Sábado Santo”.
“O Sábado Santo simboliza o enigma, o silêncio, mas não um silêncio qualquer: o silêncio como apagamento, o silêncio involuntário, o silêncio despojado, o silêncio do vazio, o silêncio sem palavras, sem figuras, o silêncio compacto, espesso, duro como a pedra, o silêncio desolado, o silêncio da pergunta sem resposta, o silêncio da espera, o silêncio do nada”, afirmou
D. José Tolentino Mendonça referiu que, entre a Sexta-feira Santa, que se sabe que é “o dia da dor absoluta, do martírio maior, do calvário”, e o Domingo de Páscoa, que “é a festa da ressurreição, o júbilo”, está “este lugar de trânsito”, um sábado sobre o qual não se sabe “nada”, um “teatro de silêncio”.
“Neste silêncio, abre-se uma possibilidade, que não é praticar uma forma de escapismo, não é fugir à dor, à nudez extrema deste silêncio, mas é o chamamento a habitar este silêncio, ao lado de todos os outros homens e mulheres”, afirmou.
“Neste sábado, neste dia da grande redução, nós estamos ao lado de todos, sentindo que este silêncio nos irmana”, acrescentou D. José Tolentino Mendonça.
Para o arcebispo madeirense, a “nudez do silêncio sem fuga”, todos os humanos e todas as criaturas se compreendem.
“Não há mãos vazias que nós não consigamos reconhecer. Porque esse é o nosso lugar”, afirmou.
“Este longuíssimo dia de Sábado Santo é um dia para nos juntarmos, para percebermos o mistério de toda a dor humana, para não julgarmos, para ficarmos à espera, na espectativa de Deus”, acrescentou
D. José Tolentino alertou para a necessidade de não reduzir “o sofrimento humano a números” e aqueles que morrem a “um dado estatístico” e sublinhou que “não poder acompanhar, na doença e na morte” familiares e amigos é “uma violência incalculável” deste tempo.
“As imagens de escavar uma vala comum em Nova Iorque, uma das cidades mais ricas do mundo, para colocar os mortos, é alguma coisa que à consciência de um homem e de uma mulher contemporâneo é um terramoto”, afirmou.
“Temos de estar muito atentos e encontrar formas para venerar a memória e para acompanhar aqueles que sofrem, não os reduzindo a um número, a um gráfico, a mais uma notícia”, indicou cardeal português.
No itinerário da Semana Santa que partilha na Agência ECCLESIA, desde o Domingo de Ramos, o cardeal D. José Tolentino Mendonça vai refletir este Domingo de Páscoa sobre “as figuras do testemunho e da esperança”.
PR
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