Rádio Ecclesia para todos?

Padre Tony NevesA Rádio Ecclesia, a Emissora Católica de Angola, nasceu em 1955. Não resistiu aos ventos do chamado ‘nitismo’, uma tentativa – segundo as autoridades de então – de golpe de estado levado a cabo por activistas do MPLA em 1977. Na sequência da ‘caça às bruxas’ que marcou esses tempos, a Rádio Ecclesia foi considerada colaboracionista dos ‘golpistas’ e, por isso, silenciada e confiscados todos os seus bens, incluindo o edifício onde funcionava, propriedade dos Missionários Espiritanos, a paredes meias com a sua Casa provincial na Cidade-Alta de Luanda.

Foi preciso que soprassem outros ventos (os que deitaram abaixo o Muro de Berlim e abriram algumas portas à liberdade e democracia!) para que a Rádio Ecclesia voltasse ao ar. Tal aconteceria em 1997 (vinte anos após o silenciamento), com um projeto radiofónico liderado pelo P. Aristides Neiva, um espiritano português formado em Comunicação Social em Roma.

Tudo parecia correr bem quando a Igreja se apercebeu que, embora a Radio tivesse âmbito nacional (assim nascera!), as autoridades angolanas só permitiam que fosse escutada em Luanda. Era – dizia o governo – uma questão de tempo a extensão do sinal a todo o país. Faltava apenas regulamentar… A Igreja apressou-se a equipar todas as dioceses para que a Ecclesia tivesse condições de excelência. Mas os tempos foram passando e a autorização nunca chegou, apesar de tanta luta, de muitas reuniões e apelos. Até hoje. E assim se tornaram absoletos todos os equipamentos!

Recordo que, no Auditório da Universidade Católica de Angola, em dezembro de 2005, houve um Congresso que celebrou os 50 anos da fundação da Rádio Ecclesia. Fui convidado a intervir e – como escrevi no editorial de Janeiro 2006 na Ação Missionária – ‘pedi, como todos, a tal assinatura que falta para que Angola inteira possa escutar a Emissora Católica. Silenciar a Ecclesia é dar força a quem diz que o governo quer manter as pessoas no obscurantismo ou tem medo da pluralidade da informação. Quer se queira quer não, esta proibição da extensão do sinal ao resto do país é uma questão política. Será que o governo quer dar provas de incentivo à liberdade de expressão? Promessas não faltam, mas é preciso passar da palavra à prática. (…). A luta continua, porque a Igreja nunca desiste das grandes causas. E a da informação plural é uma delas. Se a Ecclesia se ouvir em todo o país, a vitória vai ser do povo. Todo. Também de quem está a calar esta voz incómoda, a primeira que deixou o povo falar. A democracia agradece’ (Ação Missionária, Janeiro 2006, p.2).

Os tempos passaram e o silenciamento manteve-se, apesar da pressão contínua da Igreja. Voltei diversas vezes a Angola e sempre fui à Rádio Ecclesia. Em Outubro de 2013, após visita, escrevi: ‘Compreendi que há ‘batalhas’ entre a Igreja e o governo de Luanda que não estão perdidas, mas parecem eternamente adiadas, como a da extensão do sinal da Rádio Ecclesia ao resto do país’ (Ação Missionária, Outubro 2013, p.2).

A luta continuou e, para alegria de muitos, o novo Presidente de Angola, João Lourenço, na primeira entrevista aos jornalistas, a 8 de Janeiro, cem dias depois da tomada de posse, afirmou que a Rádio Ecclesia vai poder estender o sinal ao resto de Angola. Eu disse, na ocasião, que esta poderia ser a maior vitória da Igreja de Angola nos últimos tempos. É apenas um primeiro passo, pois a bola poderá ficar do lado dos católicos. Há que criar as condições de emissão e de produção de programas de qualidade. Estou certo de que a Igreja vai tomar muito a sério este desafio e que estará à altura da responder com qualidade. Tudo para bem dos angolanos, da sua liberdade e democracia.

Tony Neves

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