Portugal: Simpósio do Clero partilhou experiências de sinodalidade na unidade pastoral, na paróquia e no arciprestado

Três sacerdotes, de três dioceses de diferentes regiões do país, partilharam vivências da sua realidade eclesial

Fátima, 01 set 2022 (Ecclesia) – Os padres José Manuel Bento, Amaro Gonçalo e Paulo Franco, respetivamente das Dioceses de Bragança-Miranda, Porto e Lisboa, partilharam a sua experiência sobre a “vivência da sinodalidade” na unidade pastoral, na paróquia e no arciprestado, no Simpósio do Clero.

“O que eu acho que é novo é a terminologia, porque a prática efetivamente vem sendo experimentada há uns anos, nomeadamente com toda a novidade que o Concílio Vaticano II veio implementar na vida da Igreja e tornando os leigos participantes ativos e dando um relevo e importância aos sensus fidei, no sentido que a Igreja não seja tão piramidal mas muito mais circular, muito mais comunitário”, disse o cónego Paulo Franco, da Vigararia (arciprestado) de Lisboa II, em declarações à Agência ECCLESIA.

O sacerdote do Patriarcado de Lisboa, com responsabilidade paroquiais e diocesanas, explica que nos órgãos que aconselham “a decisão da autoridade eclesiástica” a participação já acontece, e exemplifica com os “órgãos próprios da função consultiva”, seja dos bispos no governo da diocese, seja dos párocos nas paróquias, “dos conselhos pastorais, dos conselhos de assuntos pastorais, ou similares”.

“As várias sensibilidades da vida da Igreja, da sua multiplicidade, acabam por se fazer presentes. Quando essa escuta acontece, a decisão e o caminho que se percorre é também fruto dessa participação ou pelo menos desse sentir da Igreja na sua globalidade”, desenvolveu.

No nordeste de Portugal, o padre José Manuel Bento é pároco moderador in solidum da Unidade Pastoral da Senhora das Graças, nas duas paróquias da cidade de Bragança, com o padre Fernando Calado, explica que vivem este caminho da sinodalidade há 10 anos, quando o bispo D. José Cordeiro chegou à diocese.

“Em vez de criarmos uma estrutura, ou um sínodo diocesano, preferimos criar as unidades pastorais com este sentido da sinodalidade. De um caminharmos juntos, respeitando ritmos, as singularidades, as diferenças, mas nesta provocação da comunhão, e apoiando-nos uns aos outros caminhamos juntos”, disse à Agência ECCLESIA.

Segundo o padre José Manuel Bento, uma das “grandes notas” da Unidade Pastoral é a mudança de rosto, que “já não é tanto o pároco, mas essencialmente uma equipa pastoral”, que toma as opções e executam com o resto das comunidades das paróquias “as estratégias pastorais de evangelização”.

“Esta mudança de rosto, esta necessidade de aproximação, tem muitas dificuldades. Exige, como o Papa fala, da conversão da mentalidade, e também da conversão do coração: De nós, os padres, mas também dos leigos que, muitas vezes, se desresponsabilizam da sua missão, do seu compromisso ativo, efetivo na comunidade”, desenvolveu o sacerdote de Bragança-Miranda.

O cónego Paulo Franco acrescenta que criar uma estrutura, um conselho, “é fácil, mesmo que, às vezes, ouçam coisas que não são agradáveis”, mas mudar a mentalidade é mais difícil, “a passividade da vida e do pensamento é mais do que muita”, e, no âmbito social atual, ao qual “a Igreja não é alheia, há uma desresponsabilização e um não-comprometimento da generalidade das pessoas”.

“Já temos uma prática daquilo que chamamos a corresponsabilidade na missão e, habitualmente, contamos com a colaboração dos leigos nos diversos serviços”, começa por assinalar o pároco de Nossa Senhora da Hora, em Matosinhos, na Diocese do Porto.

Segundo o padre Amaro Gonçalo, a sinodalidade acentua, não apenas a corresponsabilidade na missão, “mas também a colaboração nos processos de discernimento e de decisão”, e de opção pastorais.

“O padre que preside à comunidade, e tem a autoridade que lhe vem do sacramento da Ordem, tende a pensar que lhe cabe ter a única palavra e, às vezes, a sinodalidade vem recordar que construir comunidade juntos, implica que também no planeamento, na execução, na avaliação, e no discernimento dos caminhos”.

“Acreditamos que este discernimento não é possível fazer-se sozinho”, afirma o padre Amaro Gonçalo, que potenciou “muito essa prática, sobretudo no tempo da pandemia, perante desafios novos”.

A Agência ECCLESIA, acrescenta que “não é fácil”, “a tentação do pastor” pode ser pensar que tem “a melhor ideia”, como quem pertence ao Conselho Pastoral também pensar que “a sua ideia é a mais importante”.

O pároco de Nossa Senhora da Hora alerta também para o risco na vida pastoral do padre “ouvir sempre os mesmos”, e, nos leigos, “vencer o clericalismo quando se querem por fora do processo”.

‘A Identidade relacional e ministério sinodal do presbítero’ foi o tema do 10º Simpósio do Clero, que terminou hoje em Fátima, organizado pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM), da Igreja Católica em Portugal.

LS/CB

 

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