Portugal: Alta-comissária para as Migrações elogia solidariedade nacional e adverte para aproveitamento político de crises humanas

Sónia Pereira destaca papel mobilizador do Papa

Foto: ACM

Lisboa, 11 dez 2021 (Ecclesia) – Sónia Pereira, alta-comissária para as Migrações, elogiou a solidariedade portuguesa face à crise de refugiados na Europa e alertou para o aproveitamento político destas situações.

“Infelizmente, a situação das migrações é muitas vezes instrumentalizada, do ponto de vista político”, assinala a convidada deste domingo da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.

A responsável considera que existe hoje em Portugal um “risco maior” de surgimento de forças políticas extremistas que promovam discursos de ódio contra os migrantes.

“Compete-nos a nós que somos cidadãos com voz política e atuação política no nosso país, contrariar esses discursos e essas abordagens que alguns partidos – não só em Portugal – em vários países europeus fazem”, acrescenta Sónia Pereira.

A alta-comissária projeta o próximo Dia Internacional dos Migrantes (18 de dezembro), que este ano procura combater os estereótipos que reduzem os migrantes a rótulos.

“Todas as pessoas devem ser consideradas como pessoas, independentemente da fase da vida em que se encontram”, sustenta a entrevistada.

Para Sónia Pereira, a sociedade portuguesa é, de forma geral, “bastante acolhedora e favorável à imigração”, mas ainda se regista uma falta de entendimento “claro” da realidade migratória.

“Temos participado neste compromisso e neste esforço de solidariedade, como outros Estados-membros”, aponta ainda.

A responsável elogia o esforço da Comissão Europeia em convocar os Estados-membros, “para que possam ser solidários com os países que, nas fronteiras, estão mais sujeitos a pressões migratórias – como é o caso da Grécia, de uma forma muito intensa”.

Questionada sobre a recente viagem do Papa ao Chipre e à Grécia, Sónia Pereira assinalou que a mensagem de Francisco “pode ter muito impacto”.

“É um grande mobilizador de entidades e de acolhimento, na sociedade civil e em grupos de cidadãos próximos da Igreja, que se identificam com estes valores humanistas”, acrescenta.

A alta-comissária rejeita, contudo, a ideia de um “naufrágio de civilização” na Europa, por causa da crise do Mediterrâneo, indicando que dentro da União Europeia “existe uma orientação, um esforço, há Estados-membros muito comprometidos com este processo, apesar de haver Estados discordantes”.

“Há um núcleo que vai imprimir este cunho de solidariedade à Europa e vai garantir que estes mecanismos de proteção continuem a fazer parte deste processo, deste compromisso comunitário”, prossegue.

Em relação à situação dos refugiados em Portugal, Sónia Pereira realça a “solidariedade extraordinária” da sociedade em resposta à recente crise no Afeganistão, para oferecer “um acolhimento digno e que possa dar a resposta possível, também atendendo à capacidade e à situação de emergência”.

A responsável admite que existem problemas no acesso à habitação, uma “dificuldade estrutural” do país.

“Tudo o que tem a ver com acolhimento de pessoas que vêm de fora e que necessitam de habitação são impactadas pela debilidade do nosso país nessa dimensão”, assume.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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