Os padres e os ovos

Diogo Fernandes, Diocese de Viana do Castelo

Curioso/a com o título? É verdade que desta vez exagerei mas acredite que ainda hoje vai aprender a fazer a receita de “ovos verdes” enquanto lê este artigo!

Nos últimos dias, a Igreja tem sido alvo de duras críticas que assentam no tema que assombra qualquer um: os abusos sexuais (de crianças). Por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica. Esta entidade visa buscar a verdade confiando na justiça civil e canónica, quando devida, para a investigação e o julgamento de casos. No meio de todo o debate mediático, onde de facto haverá vítimas, suspeitos e culpados, quis, enquanto cristão, pedir perdão às vítimas destes crimes que a “minha” Igreja tem cometido. Por outro lado, quero também dar o meu apoio aos padres que nada terão a ver com este tipo de histórias.

É preciso separar o trigo do joio! [É aqui que entram os ovos! (Aproveitando o facto de se ter comemorado o Dia Mundial do Ovo.)]

Receita de ovos verdes

Ingredientes:

  • 10 ovos
  • 1 colher de manteiga
  • Salsa
  • Fiambre (cubos)
  • Farinha
  • Pão ralado
  • Sal e pimenta
  • Óleo para fritar

Preparação:

1. Coza 8 ovos em água e sal, cerca de 12 minutos depois da água começar a ferver. Escorra, mergulhe-os em água fria para arrefecerem e descasque.

2. Corte os ovos ao meio, no sentido longitudinal, e retire as gemas cozidas, mantendo as metades de clara inteiras. Coloque as gemas numa tigela, esmague-as com um garfo e adicione a salsa picada, a manteiga, o fiambre aos cubinhos, sal e pimenta e misture bem.

3. Recheie as cavidades das claras com o preparado anterior. Passe-as por farinha, os restantes ovos batidos e pão ralado. Frite em óleo bem quente, até ficarem dourados. Retire, escorra sobre papel vegetal e sirva de imediato.

Pergunto eu: se nesta receita, um dos ovos estiver estragado, irá prejudicar toda a confeção? A resposta é sim. E porquê? Porque todos os ovos, numa determinada altura, são todos misturados com outros ingredientes para que o resultado final seja mais delicioso! Diria que um qualquer cozinheiro faria esta receita sem nenhuma dificuldade. E se estes “ovos verdes” fossem confecionados num restaurante gourmet, onde existirá uma maior cautela com os ingredientes usados? Provavelmente, cada ovo era cozinhado individualmente, com outro tipo de cuidados, observando ovo por ovo, à procura de um qualquer defeito de forma a não haver erros na receita. Bem, preparar um bom ovo parece bem mais fácil do que aquilo que é. Um padre é igual! É necessário que os “cozinheiros” não misturem tudo… é fundamental observar e acompanhar cada padre, antes de o ser e durante. Se algum estiver “estragado”, já não pode seguir para a “receita”, entenda-se, ordenação, pois podemos cair no erro de o colocar à “mesa”. Se algum se “estragar” no entretanto, ora pois, não o podemos servir, retirando-o da “mesa”, isto é, de qualquer tipo de serviço pastoral. Esta é a minha visão: não de um “cozinheiro” mas de um “cliente” do “restaurante” chamado Igreja Católica.

Diante das notícias que têm sido veiculadas pela comunicação social, para nós, Igreja, «cada caso que acontece é uma derrota porque alguém sofre e porque contradiz radicalmente aquilo que nós somos e queremos ser». Apelamos à mudança de “atitudes e procedimentos” na Igreja e na sociedade de forma a podermos escolher como queremos os “ovos”: estrelado, cozido, escalfado ou “tudo ao molho e fé na omelete”.

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Agência ECCLESIA

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