O quarto pastorinho de Fátima

Há nomes que são um programa de vida, o de Manuel Nunes Formigão é um deles. Este tomarense, nascido no primeiro dia de 1883, foi – nas palavras de D. Manuel Mendes da Conceição – “uma trombeta de Deus”. Depois de baptizado na Igreja de João Baptista, na cidade do Nabão, no mesmo ano de nascimento, Manuel Nunes Formigão faz os estudos superiores, em Roma, e é ordenado presbítero naquela cidade italiana a 4 de Abril de 1908. É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana e regressa a Portugal em Agosto do ano seguinte à ordenação. Na viagem para a sua pátria natal faz uma paragem em Lourdes (França) e, aos pés da Virgem compromete-se a divulgar a devoção mariana, em Portugal. No mês de Outubro de 1910 caía o Antigo Regime e implantava-se a República no nosso país. Durante anos, em virtude dos movimentos revolucionários e da perseguição desencadeada contra a Igreja, não se puderam realizar peregrinações aos Santuários estrangeiros. Só volta ao Santuário francês em 1914 para participar no Congresso Eucarístico Internacional. Com as aparições de Fátima (em 1917) recebe o convite do arcebispo de Mitilene para investigar a ocorrência e está presente na 5ª aparição (Setembro) de Nossa Senhora. Nesse mesmo ano é nomeado professor de Teologia do Seminário de Santarém. “Mais que admirado pelos seus alunos, o jovem professor era por eles muito estimado. Não era o professor que arrastava sem convencer. Era o pedagogo que convencia pela clareza com que expunha os temas, pela ponderação e pelo método que utilizava” (1). Em 1918 exerce a docência de várias disciplinas no Liceu Sá da Bandeira, em Santarém, onde funda a «Associação Nun´Álvares» e efectua vários interrogatórios aos videntes que são a primeira fonte com que de imediato divulga o acontecimento de Fátima. Desse ano a 1956, a sua pena veloz e mestria literária não param ao serviço de Nossa Senhora e da sua Mensagem. Faleceu a 30 de Janeiro de 1958. Estudar os acontecimentos de Fátima Das várias vezes que esteve no Santuário de Lourdes, o Cón. Nunes Formigão prometeu consagrar a sua vida a espalhar a devoção a Nossa Senhora na sua pátria. Quando ouviu falar das aparições na Cova da Iria a três crianças tomou duas atitudes continuadas: a de não ligar importância ao assunto, mas que o facto deveria ser estudado, dado verificar-se uma afluência sempre crescente ao local das aparições. A imprensa liberal – «O Século» e o «Diário de Notícias» – relatavam os acontecimentos de Fátima. No entanto, ao saber da prisão dos pequenos pastores (Agosto de 1917), falou do assunto ao Cardeal Patriarca e chegou à conclusão que deveria observar o fenómeno no local. O desejo de ir ao local no mês de Setembro estava generalizado em quase todo o país e o mesmo acontecia com o Cón. Formigão. Numa crónica de 11 de Outubro de 1917, o jovem padre relata no jornal «A Guarda» o que presenciou: “Cedendo a um sentimento de curiosidade, justificada por factos tão extraordinários, embora sem lograr vencer de todo a repugnância que sentia em fazê-lo, pelo receio de parecer dar importância excessiva ao que talvez não passasse duma ridícula superstição, resolvi partir para Fátima, juntamente com alguns amigos”. Não se aproximou muito do local das aparições e “apenas constatei a diminuição da luz solar” (2). Ele próprio confessa: “regressei de Fátima mais céptico, apesar de me ter comovido bastante ao testemunhar a fé ardente e a piedade sincera dos peregrinos” (3). Apesar do cepticismo inicial, o Cón. Formigão voltou novamente a Fátima para conhecer pessoalmente os videntes, interrogá-los e ouvir das testemunhas fidedignas a narração verídica dos episódios que se tinham verificado nos cinco meses precedentes. Feitos os primeiros interrogatórios, o Cón. Nunes Formigão fica com uma impressão completamente diferente da que tinha antes. Sem chegar ainda à sobrenaturalidade dos factos, algo lhe fica indelevelmente na alma: a sinceridade dos videntes. De 1918 a 1922, o Cón. Formigão colabora com frequência nos periódicos «A Guarda»; «Novidades» e «A.B.C.». Nas crónicas descreve muitos episódios sobre as aparições de Fátima e o seu relacionamento com os pastorinhos. Durante este período escreve o livro «Os episódios maravilhosos de Fátima»; faz diligências e remove obstáculos na aquisição de terrenos para a construção da capelinha e ampliação de espaço para a celebração dos actos de culto. Na década de 20, colabora e põe de pé o periódico «Voz de Fátima» e escreve a obra «As grandes maravilhas de Fátima». Para ajudar na construção da Basílica escreve o livro «Fátima, o Paraíso na terra». Em 1931 sai a «A Pérola de Portugal» e cinco anos depois «Fé e Pátria». “Através da sua acção e da sua pena ao serviço da Igreja e dos acontecimentos de Fátima, o Cónego Formigão antecipou-se à Igreja que bem serviu. Depois dos Pastorinhos, o Sr. Formigão foi o instrumento escolhido por Nossa Senhora para garantir a autenticidade desses acontecimentos” – escreveu D. João Pereira Venâncio, 2º bispo de Leiria. Reparadoras de Fátima Como resposta ao pedido que Nossa Senhora fez à Jacinta em Lisboa – “Reparar os pecados da humanidade” -, O Pe. Manuel Nunes Formigão fundou (6 de Janeiro de 1926) a Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. Devido à fama de santidade, a Conferência Episcopal Portuguesa concedeu a anuência (a 16 de Novembro de 2000) para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. A clausura do processo diocesano de canonização realizou-se a 16 de Abril de 2005. Depois de lidas as actas de encerramento do processo, foram fechadas e lacradas as 20 caixas que contêm as provas recolhidas durante esta fase instrutória, num total de mais de seis mil páginas. NOTAS: 1 – Esteves, Maria da Encarnação Vieira; Apóstolo de Fátima – Cón. Manuel Nunes Formigão; Braga; Editorial A.O; 1993 2 – Ibidem 3 – Ibidem

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