Novos protagonistas

O voluntariado missionário católico dá este ano, mais uma vez, mostras de um grande fôlego, com vários movimentos de diversas regiões do país a deslocarem-se até Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Os integrantes destes projectos não levam muita coisa na bagagem: t-shirts, os habituais jeans, calções, chinelos e muita energia, porque o calor é muito e o grupo é de gente nova. As motivações, essas, estão na vontade de ajudar o outro e na fé de cada um. A Igreja e a sociedade portuguesas têm-se habituado, ao longo dos últimos anos, a observar com muita atenção estes novos protagonistas da Missão. No terreno vão encontrar uma realidade diferente da sua e integrar-se num projecto específico, pelo que, para tal foi fundamental a formação recebida antes de partir. Já desde 2003, a Agência ECCLESIA vem apresentando aos seus leitores a identidades destes novos missionários, na sua maioria recém-licenciados, que antes de entrar no mundo do trabalho querem colocar o seu saber e vontade ao serviço do outro. A opção missionária, porém, toca também profissionais já efectivos em empresas e ainda casais que, juntos vivem a fé noutro continente. O voluntariado, com as suas dinâmicas próprias, trouxe uma onda de criatividade à acção missionária da Igreja, conseguindo tocar os corações de muitos jovens, e menos jovens, movimentando sectores mais vastos das comunidades cristãs. A Missão, hoje em dia, aparece como uma realidade mais próxima dos católicos, leigos ou padres, numa dinâmica que mobiliza, cada vez mais, recursos das paróquias, movimentos e associações. A ideia de partir, em definitivo, rumo a um país distante para ali anunciar o Evangelho parece, hoje em dia, uma ideia muito longínqua. A verdade é que, com a possibilidade de projectos com menor duração (de 1/3 meses a 2 anos), muitos são os que sentem que é possível conciliar projectos futuros para a sua realização pessoal com a experiência missionária. Esta nova realidade levará, como qualquer outra na Igreja, algum tempo até ser completamente assimilada, seja pelos que se sentem desafiados a partir, seja pelos que têm o papel de lançar o desafio. A realidade portuguesa, relativamente ao voluntariado missionário, está longe de ser a mesma e, de facto, há dioceses em que este dinamismo ainda não se faz sentir – apesar de, objectivamente, não exigir o “sacrifício” de pessoal que havia na perspectiva clássica de Missão “ad gentes”. Quanto à Vida Consagrada, são cada vez mais os Institutos que valorizam o “laicado missionário” como forma de partilhar o seu carisma em projectos específicos de voluntariado missionário. Também neste caso, há necessidade de algum tempo para a adaptação de propostas que eram, até hoje, de e para missionários religiosos. A dinâmica que o laicado ou voluntariado missionário tem gerado em toda a Igreja, com consequências visíveis no nosso país, tem servido para aumentar a consciência de que a Missão não pode nem deve ser levada a cabo apenas no sentido das velhas cristandades, promovendo, antes, uma circulação, cada vez maior, entre todas as Igrejas locais em solidária partilha de animação missionária.

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