Missão: Beatriz Bernardo quer ser «barro» e construir comunidade junto dos são-tomenses no Bairro da Boa Morte

Licenciada em Matemática Aplicada parte «livre» por um ano, depois da formação junto dos Leigos para o Desenvolvimento

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 20 set 2023 (Ecclesia) – Beatriz Bernardo, Leiga para o Desenvolvimento, vai para São Tomé e Príncipe durante um ano e disse que fazer missão se percebe à luz do discernimento, do construir comunidade e da importância de se “deixar moldar” pelas pessoas.

“Esta é uma decisão inteira e em consciência do que acontece. Sou indecisa e por vezes a não decisão é uma decisão. Mas na missão é importante estar consciente e inteiro nas decisões. O facto de sermos comunidade é também importante, porque tudo começa numa comunidade e partimos em comunidade. E ser barro: nada vai ser óbvio, tudo pode mudar e ser posto em causa. Não é possível ter um manual; apenas ideias e uma estrutura, mas somos pessoas e tudo está em construção. Como diz o Papa Francisco, a realidade é mais importante que a ideia”, conta à Agência ECCLE.

A jovem, licenciada em Matemática Aplicada, parte por um ano para o bairro da Boa Morte, em São Tomé e Príncipe, para formar comunidade com Lourenço Sarávia e Pedro Bacalhau.

Beatriz vai dinamizar o projeto «Roteiro da Boa Morte», um roteiro interpretativo que mostra a cultura e tradições do bairro, proporcionando uma “dinamização turística” uma vez que a elaboração do roteiro, explica, “ajuda a identificar serviços no bairro, para se conseguir um selo ou uma marca da cultura”.

“O foco é dar a conhecer o povo e o bairro. O roteiro foi construído com a comunidade, fruto da vida dos seis mil habitantes”, explica do projeto que procura, como delineia a ONGD Leigos para o Desenvolvimento, procurar a sustentabilidade e o envolvimento das comunidades no seu desenvolvimento.

Os Leigos trabalham com a comunidade e procuram ensinar a pescar em vez de dar o peixe. Vamos em missão com o objetivo de envolver as pessoas em projetos, que possam ser elaborados em conjunto, estruturados comunitariamente, e que sejam sustentados, posteriormente apenas pelas comunidades sem a intervenção dos Leigos”.

Beatriz Bernardo, e as pessoas que se inscrevem com o objetivo de partir em missão, passaram por uma formação de um ano que, “vale por si só”.

“A Bia que entrou na primeira reunião é muito diferente. Há um conhecimento sobre o estar ao serviço, a espiritualidade, a vida em comunidade, e só no final se abordam os projetos. Foi uma experiência muito enriquecedora, é tudo feito em grupo e o crescimento é em conjunto e contínuo”, valoriza.

A jovem de 21 anos reconhece que os Exercícios Espirituais que realizam durante a formação foram essenciais para “curar o que ficou mal resolvido”.

“Os exercícios espirituais ajudam a ir ao que cada pessoa é: quem eu sou comigo, com as pessoas, com Deus, e vamos curar o que está mal resolvido. O silêncio dá isso, e só depois é que se coloca a decisão de partir”, indica.

Beatriz Bernardo veio de Armação de Pera, no Algarve, onde cresceu com a família, para estudar em Lisboa, tendo entrado primeiro no curso de Gestão e optado, posteriormente, por estudar Matemática Aplicada.

“No ano em que percebi que Gestão não era para mim, entendi que não tinha de ter tudo planeado, nem tudo pensado ao pormenor. Ao longo do tempo, e com o que vivi, percebo que não precisamos de ter tudo pensado e as coisas mudam. Levo isto com mais leveza e isso torna-me uma pessoa mais leve. Não tenho de prestar contas à vida nem a mim; vou para São Tomé de coração livre; quando vier vamos com calma – tenho objetivos mas não tem de ser para já”, reconhece.

A conversa com Beatriz Bernardo pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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