Igreja: Temas da «inovação e sustentabilidade» marcam Semana de Formação da Cáritas Portuguesa

«Temos de nos desafiar a cada dia e os últimos anos têm sido demonstrativos de quão criativos temos de ser para agir em favor dos mais vulneráveis» – Rita Valadas

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Aveiro, 20 set 2023 (Ecclesia) – A Cáritas Portuguesa, com a sua rede diocesana, está a promover, até sexta-feira, a Semana de Formação 2023, para 159 pessoas, com “um programa muito amplo” a partir do tema geral ‘Inovação e Sustentabilidade’.

“Nós temos de nos desafiar a cada dia e os últimos anos têm sido demonstrativos de quão criativos temos de ser para agir em favor dos mais vulneráveis: Tivemos crises financeiras, doença, guerra. Temos uma série de coisas e é impossível antever, aquela base programática de trabalho, com plano anual, depois a avaliação, é uma referência mas é cada vez menos a única do nosso trabalho”, disse a presidente da Cáritas Portuguesa, em declarações à Agência ECCLESIA, no início da Semana de Formação, esta terça-feira, em Aveiro.

Rita Valadas realça que o trabalho da organização católica “é pertíssimo das pessoas”, a Cáritas em Portugal é “o mais capilar que existe, é presença em cada bairro”, e isso permite ter uma leitura do que vai acontecendo, “antecipar problemas e também pode ajudar a criar soluções”, e é por isso que a “inovação é tão importante”.

Neste contexto, e ainda a partir do tema desta quinta semana de formação, a responsável da Cáritas destaca também a questão da sustentabilidade, lembrando que se vivem “tempos de muita, muita dificuldade financeira, de crises sucessivas e somadas”, vão para a “próxima crise sem resolver a anterior” e trazem cada vez mais pessoas a esta zona de vulnerabilidade.

“Os números são sempre assustadores. Embora não goste muito dos números, a verdade é que se olharmos para a pureza dos números dizem que 50% das pessoas não conseguem pagar os seus custos, 30% das pessoas que trabalham vivem no limiar da pobreza, etc. A sustentabilidade assim como é das famílias também é das instituições”, desenvolveu.

A presidente da Cáritas Portuguesa sublinha que as instituições, neste momento, “veem com muita dificuldade a gestão” e exemplifica que se existe “dificuldade” em levar comida para a mesa, “é fácil extrapolar como será difícil trazer a comida para respostas que têm soluções alimentares, como no apoio domiciliário, respostas para idosos ou crianças”, porque a gestão nunca previu que ia existir este aumento.

“A sustentabilidade do dia-a-dia, mas também da gestão, porque os protocolos de cooperação, os apoios do Governo também não são apresentados de forma a puderem ser utilizados com algum cuidado, não sabemos com o que é que contamos amanhã, portanto quando hoje vem dinheiro usamo-lo com a desgraça, com o problema que há hoje. Os protocolos não têm sido atualizados de acordo com as necessidades dos custos e a não sustentabilidade é uma das dores de cabeça dos nossos dirigentes e este tema era inultrapassável”, acrescentou Rita Valadas.

Jorge Matias, da área de Capacitação Institucional da Cáritas Portuguesa, da organização desta semana sublinha que é importante porque “é um encontro de todos os atores da Cáritas em Portugal, que atuam nos diferentes níveis”, onde as pessoas “reúnem, partilham experiências, partilham projetos”, em momentos de reflexão e de amizade.

Sobre o programa, com momentos de partilha de projetos, reflexão, workshops variados, celebração e momentos culturais, este responsável explicou, à Agência ECCLESIA, que a “atualização de conhecimentos é fundamental”, e levaram “para a Igreja e para estas pessoas algumas componentes de inovação e também uma mensagem muito clara de sustentabilidade ambiental, sustentabilidade financeira”, princípios para a Cáritas “muito importantes, cada vez mais desafiados pelo Papa Francisco”.

CB/OC

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O primeiro dia de formação contou com uma conferência de abertura, intitulada ‘Ética, Responsabilidade e Solidariedade’, apresentada por Alberto Souto de Miranda, presidente da distrital de Aveiro da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que desenvolveu “temas muito desafiantes e complexos”: Um tema tradicional, a ‘Gestão Pública’, e dois temas emergentes, a ‘Ética e a Inteligência Artificial’ e a ‘Ética e a Responsabilidade Ambiental’.

“Estamos todos a aprender ainda onde é que a Inteligência Artificial e a digitalização das nossas vidas no leva. Estamos todos ainda a perceber qual é o nível de indiferenciação ética do nosso povo que convive com políticos que não sempre impolutos, e finalmente, aproveitei para aprender também bastante sobre a ética ambiental cristã, plasmada na encíclica [Laudato Si] do Papa de 2015, que é um texto magnífico, muito bem fundamentado, muito bem escrito, e que é um alerta desassombrado”, desenvolveu, em declarações à Agência ECCLESIA.

Para Alberto Souto de Miranda, antigo presidente da edilidade aveirense, a conclusão é que quer na ética cristã, quer na ética mais laica, “pode haver um mínimo denominador comum que a decência humana e o humanismo sejam irredutíveis”, a internet, digitalização, a universalização, a informação em instante, “se trazem a perceção crua e ingente desse inconformismo e misérias, por outro lado talvez possam trazer também um fermento de bem e solidariedade universal”, que é a sua “esperança”.

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