Mercados: Ética cristã deve comandar maximização do lucro e sua redistribuição, diz professor de Economia da Católica

«Valores assustadores de dívida» vão carregar gerações vindouras «em benefício das atuais», observa Joaquim Cadete

Lisboa, 03 jan 2012 (Ecclesia) – A ética cristã comanda a busca de receitas na atividade empresarial mas também deve determinar a sua justa repartição, considera Joaquim Cadete, professor da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

“Temos de procurar todos os dias o nosso melhor. E essa procura vai conduzir necessariamente à maximização do lucro. Mas não precisamos de ficar com ele para nós”, afirmou o docente no programa ECCLESIA da RTP-2 transmitido esta segunda-feira.

Segundo o especialista, a redistribuição não tem de ser “necessariamente” feita pelo Estado: “Nós próprios, com os princípios morais que devemos interiorizar, devemos ter essa consciência”, sublinhou, acrescentando que uma “correta conduta no mercado” exige “uma base ética”.

Ao introduzir um “bem relacional na relação económica” pode surgir “uma justiça que não tem em conta apenas o bem da empresa mas de todos os seus agentes e do que está à sua volta”, realçou por seu lado Miguel Panão, investigador ligado ao Centro de Estudos de Filosofia da UCP.

[[v,d,2789,Entrevista a Joaquim Cadete, economista, e Miguel Panão, investigador universitário]]”Assistimos, especialmente na última década, a uma maximização desenfreada do lucro sem noção das implicações para os outros”, sustentou Joaquim Cadete, que à semelhança de Bento XVI criticou o “relativismo” dos valores que conduziu à acentuação do “ego”.

As consequências desta atitude estão também na origem do défice das contas públicas portuguesas: “Não tivemos problema algum em criar valores assustadores de dívida, carregando as gerações vindouras em benefício das atuais”, frisou o docente.

Joaquim Cadete considera que o conjunto de reformas estruturais em Portugal vai obrigar a mudanças nos orçamentos pessoais: “Importa que as famílias comecem já a criar algumas dinâmicas para saberem poupar e otimizarem, na medida do possível, o seu consumo”, redirecionando-o para o “prioritário”.

O professor pensa que os movimentos de “indignação” contra a falta de perspetivas de futuro protagonizados pelos jovens constituem um “alerta” para as gerações mais velhas, que devem ceder alguns dos seus “direitos adquiridos” em favor da juventude.

“Temos de ter esperança e alento para as dificuldades que vamos atravessar”, apontou Joaquim Cadete, atitude que, segundo Miguel Panão, pode ser percecionada entre os mais novos: “Os jovens têm uma capacidade de olhar para as coisas e ver a novidade que nos deve inspirar”.

O investigador universitário especializado em filosofia política e ética acrescenta que o “obstáculo pode tornar-se um trampolim”: “2012 vai ser um ano com muita imaginação” e “talvez seja o mais criativo” dos últimos tempos.

PTE/RJM

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